O CIRCO DAS QUALIDADES HUMANAS é um filme definido por uma estética própria e uma linguagem específica. Ao invés de concentrar-se num único fio condutor, alicerça-se em quatro narrativas: A Procura, A Viagem, A Caçada e O Encontro, possuindo, cada uma delas, o seu próprio tema, a sua própria linguagem e os seus próprios personagens.
Dentro do que se poderia chamar de módulo comum de cinema O CIRCO DAS QUALIDADE HUMANAS seria um filme de episódios. Mas não é um filme de episódios. Nenhuma das narrativas é formatada como se fosse apenas um bloco. Pelo contrário, todas elas participam e são partes integrantes da narrativa geral.
Ao invés de estanques e de contarem, somente, a sua estória, todas se entrelaçam e interligam. E são, justamente, esses entrelaces e essas interligações que dão forma e conteúdo ao todo da narração. Os personagens, embora cada um tenha o seu próprio tema e viva a sua própria estória, se interligam e interrelacionam, e todos formam e participam do contexto da narrativa geral.
A especificidade da estética e da linguagem de O CIRCO DAS QUALIDADES HUMANAS baseia-se na sua própria estrutura de concepção. Apesar de nenhuma das narrativas ser estanque e todas se entrelaçarem e interligarem, o filme será dirigido por quatro diretores. Cada um utilizando a sua própria estética e a sua própria linguagem. Assim, o que delimitará cada narrativa será a criação pessoal de cada diretor.
As seqüências comuns, isto é, aquelas em que atuam personagens de duas ou mais narrativas, serão dirigidas pelo diretor cujo personagem protagoniza a seqüência. Exemplos: a seqüência 16 será dirigida pelo diretor da narrativa O Encontro, a seqüência 26 será dirigida pelo diretor da narrativa A Caçada, a seqüência 29 será dirigida pelo diretor da narrativa A Procura, a seqüência 33 será dirigida pelo diretor da narrativa A Viagem, e assim sucessivamente.
A realidade é o que é. Imutável e una em si mesma. Por isso, o que individualiza o ser humano não é a sua essência. É a sua condição de relativizar a realidade que o cerca. Um mendigo que pede esmola numa esquina ou uma nuvem que passa no horizonte são sempre um mendigo e uma nuvem. Mas têm significados diferentes, de acordo com a visão de cada um.
E é, justamente, esta visão individualizada que O CIRCO DAS QUALIDADES HUMANAS mostra com a sua interpolação de estéticas e de linguagens, que faz dele um filme sui generis e o transforma numa nova linguagem cinematográfica. |