102 - CASA DE CHICÃO. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Chicão abre o guarda-roupa. Carioca, encostado na porta, observa. Encoberto pela porta do guarda-roupa, Chicão pega um revólver. Close do revólver sendo escondido na cintura. Carioca não percebe. Chicão pega um frasco e fecha o armário. Diante do espelho, embebe o lenço e passa no ferimento, o rosto contraído pela dor. Close do rosto de Carioca, sorrindo.
103 - CASA DE CHICÃO. SALA. INTERIOR. NOITE.
Chicão entra, seguido de Carioca. Marlene olha Chicão, aterrorizada.
CHICÃO (A Marlene, sorrindo)
- Preocupa, não. Tá tudo bem.
Preto continua olhando Marlene e sorrindo, debochado.
CHICÃO (Continuando)
- Nós só vamo dar uma saída. Preocupa, não.
DUDU
- Papai...
CHICÃO
- Preocupa, não, filhote. Papai volta já, já.
Dudu corre para Chicão e ele abraça-o e beija-o.
CHICÃO
- Tchau, filho.
Marlene levanta-se e Chicão abraça-a.
CHICÃO
- Preocupa, não. Já, já, eu tô de volta.
Marlene senta-se no sofá. Preto aproxima-se e debruça-se sobre Marlene. Marlene encolhe-se. Preto encosta a boca no ouvido dela e passa-lhe as mãos nos seios. Não se escuta, mas percebe-se que Preto repete a palavra Fodão. Marlene olha Chicão. Mas Chicão não diz, nem faz nada. Carioca puxa Preto por um braço, com força.
CARIOCA
- Que porra, caralho!
Preto ri e olha Chicão. Depois, abre a porta e sai. Chicão segue Preto, com Carioca atrás dele.
104 - RODOVIA 040. EXTERIOR. NOITE.
O corcel de Carioca e Preto em alta velocidade, os faróis varrendo a escuridão e iluminando uma tabuleta: RIO DE JANEIRO.
105 - CORCEL. INTERIOR. NOITE.
Preto e Chicão no assento traseiro, e Carioca dirigindo.
PRETO
- Meu irmão.
Carioca não responde.
PRETO (Debochado)
- Será que, depois da gente entregar o presunto, eu posso voltar e dar uma mordida no cangote da mina aqui do falecido? Hem?
Carioca continua calado.
PRETO (A Chicão)
- Tu deixa? (Ri.) Aquele cangote me tesou! Tesou mesmo!
Chicão não responde.
PRETO
- Hem, xumbrega?! Tu deixa ou num deixa, caralho?!
Close do rosto de Chicão, sorrindo, enigmático. A câmera desce pelo corpo de Chicão. Close da mão de Chicão, acariciando o revólver, na cintura.
CHICÃO (Abrindo o sorriso)
- Se tu puder...
106 - RODOVIA 040. EXTERIOR. NOITE.
Plano geral do corcel de Carioca e Preto, sumindo na escuridão.
107 - COLONIAL HOTEL. INTERIOR. MADRUGADA.
Eduardo e Helena, de mãos dadas, descem as escadas e dirigem-se para a Recepção. Eduardo usa a mesma roupa da seqüência 98. O Recepcionista, sentado numa cadeira atrás do balcão, cochila. Eduardo dá duas palmadas leves no balcão.
EDUARDO
- Meu amigo.
O Recepcionista acorda, estremunhado, e age como se não visse Helena.
RECEPCIONISTA
- Sim?
EDUARDO
- Fecha a minha conta.
O Recepcionista espanta-se, ao reconhecer Eduardo.
RECEPCIONISTA
- Mas, Dr. Eduardo...
EDUARDO
- Apartamento 6, por favor.
RECEPCIONISTA (Continuando)
- ... a esta hora, eu não vou ter nem táxi pro senhor.
Eduardo olha Helena e ambos sorriem
EDUARDO (Ao Recepcionista)
- E quem lhe disse que eu preciso de táxi?
RECEPCIONISTA
- Mas, Dr. Eduardo... O senhor não gostou do nosso hotel, não?
EDUARDO
- Ao contrário. O seu hotel é ótimo.
RECEPCIONISTA
- Mas, então, quê que eu digo pro Dr. Fábio?
Eduardo encolhe os ombros, sem responder.
RECEPCIONISTA (Continuando)
- Ele fez tanta recomendação. Falou tanto que...
EDUARDO (Cortando)
- Não diga nada.
RECEPCIONISTA
- Mas, Dr. Eduar...
EDUARDO (Cortando, incisivo)
- Esqueça. O Dr. Fábio nunca vai lhe perguntar.
Helena dirige-se para a porta. O Recepcionista tira a conta e apresenta-a. Eduardo paga em dinheiro. O Recepcionista faz o troco, Eduardo recusa-o com um gesto, e ele guarda-o.
RECEPCIONISTA
- Muito obrigado, Dr. Eduardo. E uma boa viagem.
108 - IGREJA DE SÃO JOSÉ. EXTERIOR. MADRUGADA.
Bosco, parado, olha, fixamente, a porta fechada. De repente, num gesto brusco, mete a mão no bolso, pega a pedra verde e olha o punho cerrado. Close do rosto crispado, iluminado pela luz da pedra.
VOZ DE BOSCO
- Não vou mais querer!
Bosco sai correndo, pelo meio da rua.
VOZ DE BOSCO
- Mas tenho que querer! Os substantivos é que quebram os silêncios!
A câmera acompanha a corrida de Bosco, enquanto a sua voz se expande, como um eco.
109 - COLONIAL HOTEL. INTERIOR. MADRUGADA.
Eduardo dirige-se para a porta. Helena sai para a rua. Após alguns instantes, o Recepcionista nota que Eduardo saiu sem a bagagem e corre atrás dele.
RECEPCIONISTA (Gritando)
- Dr. Eduardo! Dr. Eduardo!
110 - RUA. EXTERIOR. MADRUGADA.
Plano geral de Eduardo e Helena, de costas, abraçados, andando. O Recepcionista aparece, ofegante.
RECEPCIONISTA (Gritando)
- Dr. Eduardo! O senhor esqueceu a bagagem!
Eduardo volta-se.
EDUARDO (Sorrindo)
- E quem lhe disse que eu preciso de bagagem?
Eduardo abraça Helena e ambos continuam andando, abraçados, até desaparecem na escuridão total. |