CUNHA DE LEIRADELLA
O CIRCO DAS
QUALIDADES HUMANAS



Longa metragem

INDEX

Nota preliminar
Narrativas
Personagens (ordem alfabética)
Figuração
Perfil dos personagens

ROTEIRO:

01-15
16-18
19-25
26-32
33-34
35-37
38-40

41-43
44-45
46-50
51-58
59-62
63-67
68-70

71-72
73-79
80-83
84-91
92-101
102-110
111-121

 

102 - CASA DE CHICÃO. QUARTO. INTERIOR. NOITE.

 

Chicão abre o guarda-roupa. Carioca, encostado na porta, observa. Encoberto pela porta do guarda-roupa, Chicão pega um revólver. Close do revólver sendo escondido na cintura. Carioca não percebe. Chicão pega um frasco e fecha o armário. Diante do espelho, embebe o lenço e passa no ferimento, o rosto contraído pela dor. Close do rosto de Carioca, sorrindo.

 

103 - CASA DE CHICÃO. SALA. INTERIOR. NOITE.

 

Chicão entra, seguido de Carioca. Marlene olha Chicão, aterrorizada.

 

CHICÃO (A Marlene, sorrindo)

- Preocupa, não. Tá tudo bem.

 

Preto continua olhando Marlene e sorrindo, debochado.

 

CHICÃO (Continuando)

- Nós só vamo dar uma saída. Preocupa, não.

DUDU

- Papai...

CHICÃO

- Preocupa, não, filhote. Papai volta já, já.

 

Dudu corre para Chicão e ele abraça-o e beija-o.

 

CHICÃO

- Tchau, filho.

 

Marlene levanta-se e Chicão abraça-a.

 

CHICÃO

- Preocupa, não. Já, já, eu tô de volta.

 

Marlene senta-se no sofá. Preto aproxima-se e debruça-se sobre Marlene. Marlene encolhe-se. Preto encosta a boca no ouvido dela e passa-lhe as mãos nos seios. Não se escuta, mas percebe-se que Preto repete a palavra Fodão. Marlene olha Chicão. Mas Chicão não diz, nem faz nada. Carioca puxa Preto por um braço, com força.

 

CARIOCA

- Que porra, caralho!

 

Preto ri e olha Chicão. Depois, abre a porta e sai. Chicão segue Preto, com Carioca atrás dele.

 

104 - RODOVIA 040. EXTERIOR. NOITE.

 

O corcel de Carioca e Preto em alta velocidade, os faróis varrendo a escuridão e iluminando uma tabuleta: RIO DE JANEIRO.

 

105 - CORCEL. INTERIOR. NOITE.

 

Preto e Chicão no assento traseiro, e Carioca dirigindo.

 

PRETO

- Meu irmão.

 

Carioca não responde.

 

PRETO (Debochado)

- Será que, depois da gente entregar o presunto, eu posso voltar e dar uma mordida no cangote da mina aqui do falecido? Hem?

 

Carioca continua calado.

 

PRETO (A Chicão)

- Tu deixa? (Ri.) Aquele cangote me tesou! Tesou mesmo!

 

Chicão não responde.

 

PRETO

- Hem, xumbrega?! Tu deixa ou num deixa, caralho?!

 

Close do rosto de Chicão, sorrindo, enigmático. A câmera desce pelo corpo de Chicão. Close da mão de Chicão, acariciando o revólver, na cintura.

 

CHICÃO (Abrindo o sorriso)

- Se tu puder...

 

106 - RODOVIA 040. EXTERIOR. NOITE.

 

Plano geral do corcel de Carioca e Preto, sumindo na escuridão.

 

107 - COLONIAL HOTEL. INTERIOR. MADRUGADA.

 

Eduardo e Helena, de mãos dadas, descem as escadas e dirigem-se para a Recepção. Eduardo usa a mesma roupa da seqüência 98. O Recepcionista, sentado numa cadeira atrás do balcão, cochila. Eduardo dá duas palmadas leves no balcão.

 

EDUARDO

- Meu amigo.

 

O Recepcionista acorda, estremunhado, e age como se não visse Helena.

 

RECEPCIONISTA

- Sim?

EDUARDO

- Fecha a minha conta.

 

O Recepcionista espanta-se, ao reconhecer Eduardo.

 

RECEPCIONISTA

- Mas, Dr. Eduardo...

EDUARDO

- Apartamento 6, por favor.

RECEPCIONISTA (Continuando)

- ... a esta hora, eu não vou ter nem táxi pro senhor.

 

Eduardo olha Helena e ambos sorriem

 

EDUARDO (Ao Recepcionista)

- E quem lhe disse que eu preciso de táxi?

RECEPCIONISTA

- Mas, Dr. Eduardo... O senhor não gostou do nosso hotel, não?

EDUARDO

- Ao contrário. O seu hotel é ótimo.

RECEPCIONISTA

- Mas, então, quê que eu digo pro Dr. Fábio?

 

Eduardo encolhe os ombros, sem responder.

 

RECEPCIONISTA (Continuando)

- Ele fez tanta recomendação. Falou tanto que...

EDUARDO (Cortando)

- Não diga nada.

RECEPCIONISTA

- Mas, Dr. Eduar...

EDUARDO (Cortando, incisivo)

- Esqueça. O Dr. Fábio nunca vai lhe perguntar.

 

Helena dirige-se para a porta. O Recepcionista tira a conta e apresenta-a. Eduardo paga em dinheiro. O Recepcionista faz o troco, Eduardo recusa-o com um gesto, e ele guarda-o.

RECEPCIONISTA

- Muito obrigado, Dr. Eduardo. E uma boa viagem.

 

108 - IGREJA DE SÃO JOSÉ. EXTERIOR. MADRUGADA.

 

Bosco, parado, olha, fixamente, a porta fechada. De repente, num gesto brusco, mete a mão no bolso, pega a pedra verde e olha o punho cerrado. Close do rosto crispado, iluminado pela luz da pedra.

 

VOZ DE BOSCO

- Não vou mais querer!

 

Bosco sai correndo, pelo meio da rua.

 

VOZ DE BOSCO

- Mas tenho que querer! Os substantivos é que quebram os silêncios!

 

A câmera acompanha a corrida de Bosco, enquanto a sua voz se expande, como um eco.

 

109 - COLONIAL HOTEL. INTERIOR. MADRUGADA.

 

Eduardo dirige-se para a porta. Helena sai para a rua. Após alguns instantes, o Recepcionista nota que Eduardo saiu sem a bagagem e corre atrás dele.

 

RECEPCIONISTA (Gritando)

- Dr. Eduardo! Dr. Eduardo!

 

110 - RUA. EXTERIOR. MADRUGADA.

 

Plano geral de Eduardo e Helena, de costas, abraçados, andando. O Recepcionista aparece, ofegante.

 

RECEPCIONISTA (Gritando)

- Dr. Eduardo! O senhor esqueceu a bagagem!

 

Eduardo volta-se.

 

EDUARDO (Sorrindo)

- E quem lhe disse que eu preciso de bagagem?

 

Eduardo abraça Helena e ambos continuam andando, abraçados, até desaparecem na escuridão total.