26 - RUA. EXTERIOR. DIA.
Um carro da Açominas sobe a rua. Em sentido contrário, aparece o corcel de Carioca e Preto. O carro da Açominas pára. O corcel pára também. A câmera enquadra-o pelo lado de Carioca.
CARIOCA (Debruçando-se na janela)
- Favor, amigão...
Fábio, sai do carro.
FÁBIO
- Sim?
CARIOCA
- Dava pra dizer por onde eu vou pro Bar do Campo?
FÁBIO (Apontando a rua, atrás do corcel)
- É por esta rua mesmo. Mas é contramão. O senhor vai ter que voltar e subir pelo outro lado. O Bar do Campo fica na Romaria.
CARIOCA
- Romaria?
FÁBIO
- É. É uma construção muito grande que...
CARIOCA (Cortando)
- Brigado, amigão.
27 - CORCEL. INTERIOR. DIA.
Preto, de cara fechada, olha Fábio.
PRETO
- Já tô, ó! Ô cidade fodida!
CARIOCA
- Calma. Já, já, tu vai ter o que fazer.
PRETO
- É bom mesmo!
28 - RUA. EXTERIOR. DIA.
Fábio, parado, espera o corcel recuar. Carioca dá marcha a ré e sobe na calçada, quase atropelando Ulysses, que vem descendo.
29 - RUA. EXTERIOR. DIA.
Ulysses continua andando. Na porta da casa de Bosco, logo abaixo, cruza com Antônio, que está entrando.
ANTÔNIO (Efusivo)
- Veja só! Por Congonhas, a esta hora?
ULYSSES
- Cheguei...
ANTÔNIO (Ao mesmo tempo)
- Veio de férias ou é passeio mesmo?
ULYSSES
- Eu vim...
ANTÔNIO (Cortando)
- Diz que, aquilo, por lá, tá uma guerra.
Ulysses olha Antônio, como se não tivesse entendido.
ANTÔNIO (Com ênfase)
- O Rio de Janeiro! Diz que ninguém agüenta mais aquilo!
ULYSSES
- É. Realmente...
ANTÔNIO (Ao mesmo tempo)
- Mas vamos entrar. Vamos entrar. A casa é sua.
ULYSSES
- Não. Muito obrigado.
ANTÔNIO
- Eu faço questão!
ULYSSES
- É que eu vou almoçar na...
ANTÔNIO (Cortando)
- Na casa da comadre Prisciliana? Faz muito bem. Faz muito bem. Mas não vai me fazer desfeita, não, que eu não aceito.
Ulysses tenta afastar-se, mas Antônio segura-o por um braço.)
ANTÔNIO
- Não, senhor!
Antônio empurra Ulysses para dentro da porta aberta e entra também.
30 - RUA. EXTERIOR. DIA.
O corcel de Carioca e Preto pára em frente ao Bar do Campo. Duas portas e mesas, ainda vazias, na calçada. A câmera enquadra o corcel pelo lado de Carioca. Carioca debruça-se na janela e observa a praça, atentamente, durante algum tempo.
31 - CORCEL. INTERIOR. DIA.
Preto, impaciente, olha Carioca.
PRETO
- Tá esperando o quê?
CARIOCA
- Manera, porra!
PRETO
- Manera, o quê, caralho?! Num tem ninguém xeretando, não!
CARIOCA
- Por isso mesmo. Tá muito...
PRETO (Cortando)
- Tá grilado? Grila, não. Grila, não, que a gente num é ninguém, não, porra!
CARIOCA
- Num é ninguém, só se for tu! Que eu sou e muito! Num fosse aquele filho da puta...
PRETO
- Desse papo, eu já tô, ó...
32 - RUA. EXTERIOR. DIA.
Preto sai do corcel e anda em direção ao Bar do Campo. Uma moça vem andando na direção dele. Preto pára, olha a moça e assobia.
PRETO
- Depois desse tal Aleijadinho, quem mais me aleijou, nesta terra, foi você, (Enfatiza a palavra.) gatona!
A moça sorri e continua andando, rebolando as cadeiras. Preto ri, com ar safado, e assobia de novo. A Moça volta-se e Preto faz o gesto de correr atrás dela. A moça anda mais rápido.
PRETO
- Ei! Foge, não!
Escuta-se o barulho da porta do corcel, batida com força, e Carioca passa por Preto, em direção ao Bar do Campo.
CARIOCA
- Vambora. A gente num veio aqui pra...
Carioca pára, volta-se e olha Preto.
CARIOCA
- Vambora, porra!
Preto resmunga, mas começa andando. |