80 - BAR DO CAMPO. INTERIOR. NOITE.
Preto continua bebendo no canto do balcão, acompanhado de Lisa. Chicão entra, sorridente. Preto, ao ver Chicão, afasta-se de Lisa, num movimento rápido. Lisa olha-o, espantada.
PRETO
- Güenta aí. Güenta aí, que eu...
Antes que Lisa possa dizer alguma coisa, Preto afasta-se, rápido, como se fosse ao banheiro. Jofre, carregando uma bandeja, passa junto de Chicão.
CHICÃO
- Cadê o velho Nilo?
Jofre olha a mesa de Carioca e a câmera segue o seu olhar. Carioca olha para Jofre e baixa a cabeça. Jofre entende o significado do olhar de Carioca e aponta a mesa a Chicão.
JOFRE
- Tá lá.
Corta para Carioca e Nilo. Chicão aproxima-se, sem reconhecer Carioca, de cabeça baixa, e dá uma palmada no ombro de Nilo.
CHICÃO
- Quê que...
Nilo olha Chicão e ele percebe que alguma coisa está errada. Carioca levanta a cabeça e olha Chicão, debochado. Chicão, rápido, leva a mão à cintura. Mas pára o gesto ao sentir Preto enfiar o cano do revólver nas suas costas.
PRETO
- Qual que é, ô? Eu sou preto, mas não sou burro, não, quê que há?
Num gesto rápido, Preto tira o revólver de Chicão e guarda-o.
PRETO
- Senta aí.
Chicão olha Preto, espantado, mas sorrindo. Preto, furioso, empurra-o com o cano do revólver.
PRETO
- Senta, caralho!
Chicão senta-se e Preto senta-se também. Carioca faz um gesto. Jofre aproxima-se, correndo.
CHICÃO
- Tá tudo bem, Jofre. Faz de conta que...
PRETO
- Faz de conta, o caralho! (A Jofre.) Se tu der bandeira...
CARIOCA (A Jofre)
- Vai. Vai. Se manda. Mas já viu!
Jofre afasta-se, rápido.
CARIOCA (A Nilo)
- Agora, nós vamo acertar. (Debochado, a Chicão.) Num vamo, não, bom amigo?
Nilo passa a toalha na cara e no pescoço. Chicão enche um copo de cerveja e bebe, devagar.
CHICÃO (Sorrindo, aparentando segurança)
- Vamo, claro.
PRETO
- Vamo, o caralho! Cumé que tu pode acertar, se tá devendo até a alma? Ou tu já esqueceu de Chumbinho, de Mocó, de Piti, de Cagão, de... Tu já esqueceu de Mary Gold, caralho?!
CARIOCA
- Esqueceu, não. Lembra muito bem, num lembra, não?
Carioca olha Nilo e, depois, olha Chicão, enfatizando as palavras.
CARIOCA
- Hem, bom amigo?
CHICÃO
- Claro que eu lembro. E tô lembrando até de um negócio...
PRETO (Cortando)
- Num tem negócio, não!
CHICÃO (A Carioca)
- Quem sabe o negócio que eu tenho é melhor do que...
CARIOCA (Cortando)
- Agora, num tem mais negócio, não, bom amigo. Agora...
PRETO (Com força)
- Então, vambora! Vamo acabar logo cum essa porra!
CHICÃO (A Carioca)
- Dava pra...
PRETO (Cortando)
- Dava, o caralho!
CHICÃO (Continuando)
- ... despedir da mulher e do garoto?
Preto, furioso, vai dizer alguma coisa. Carioca, rápido, manda-o calar com um gesto e olha Chicão, durante alguns instantes.
CARIOCA
- Bom tu lembrar da Mary Gold, se tá pensando...
CHICÃO (Encolhendo os ombros)
- Não tô pensando nada.
PRETO
- Tu vai cagar igual, igual, filho da puta!
Carioca levanta-se e aponta Chicão.
CARIOCA
- Olho nele.
PRETO (Rindo)
- Xacomigo, meu irmão! Xacomigo!
CARIOCA (A Nilo)
- E tu, aí, ó, boca de siri. Senão...
Carioca passa o dedo na garganta e faz o gesto característico da degola.
CARIOCA
- ... já viu!
NILO
- Eu juro... Eu juro que...
Nilo cala-se e olha Chicão. Chicão levanta, ligeiramente, as sobrancelhas. Preto percebe e, rápido, dá-lhe uma coronhada na testa. Chicão agüenta a pancada sem gritar.
PRETO (Com raiva)
- Filho da puta!
O sangue escorre da testa de Chicão e Nilo quer levantar-se. Preto segura-o e ameaça fazer o mesmo que fez em Chicão. Carioca segura o braço de Preto.
CARIOCA
- Porra, caralho, tu pirou?
PRETO
- Pirou foi tu, filho da puta!
Preto, furioso, aponta Chicão e Nilo.
PRETO
- Num viu o jogo deles, não, caralho?!
81 - CASA DE BOSCO. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.
Bosco vem correndo, esbarrando nas paredes.
VOZ DE BOSCO
- Eu não posso! Eu não quero!
Empurra a porta, com força, e entra no banheiro.
82 - CASA DE BOSCO. BANHEIRO. INTERIOR. NOITE.
Jussara toma banho e masturba-se. Não grita, quando Bosco entra. Antes pelo contrário, sorri e acelera os movimentos. Bosco olha-a, esgazeado. Jussara acelera, ainda mais, os movimentos e geme. Uma excitação violenta toma conta de Bosco e ele treme, e balbucia palavras incompreensíveis. À medida que aumenta o tremor de Bosco, dos seios de Jussara começa saindo um líquido prateado, que esguicha e bate na cara de Bosco. Quando explode o orgasmo de Jussara, Jussara e Bosco gritam. Neste momento, a porta abre e entra Antônio, que agarra Bosco com violência. Exatamente como fez a figura que apareceu na parede, na seqüência 40.
83 - BAR DO CAMPO. INTERIOR. NOITE.
Jofre, ao ver o sangue escorrendo da testa de Chicão, quer fugir. Mas vê Preto olhando para ele e continua servindo. Corta para Carioca, Preto, Nilo e Chicão. Preto obriga Chicão a levantar-se. Carioca faz o mesmo com Nilo.
CARIOCA
- Agora, a gente vai embora...
NILO (Gaguejando)
- E... e... e...
PRETO
- Gagueja, não, caralho! (A Carioca.) Apaga ele. Num vamo dar bandeira, não!
CARIOCA (A Nilo)
- Tu viu? Se abrir o bico, ó... (A Preto.) Vamo.
Começam andando. Nilo na frente e Carioca encostado nele. Atrás, Chicão, e Preto, também encostado nele. Na zoeira do ambiente, ninguém repara neles. Param junto da porta.
NILO
- Pelas santas almas do céu...
PRETO (A Carioca)
- Apaga ele, porra! Vai foder a gente.
NILO (Continuando)
- ... eu juro que não digo nada, não, Seu Carioca.
Preto, de repente, dá um tiro e acerta a perna de Nilo. Nilo cai no chão, gritando.
PRETO
- Agora, tu num diz mesmo, caralho!
O bar vira um tumulto, com o tiro. Jofre cai no chão, gritando.
JOFRE
- Eu tô morto! Eu tô morto!
CARIOCA (A Jofre)
- Cala a boca, porra!
Carioca dá um tiro para o ar e todos se calam.
CARIOCA (Gritando)
- Todo mundo aí, caralho! Se vacilar...
Todos olham Carioca, assustados.
CARIOCA (A Chicão, sorrindo, debochado)
- Agora, nós vamo acertar as nossas contas, bom amigo! |