A maioria dos cantos de trabalho pertencem à Beira Baixa. São canções que acompanham a ceifa (“Oh que calma vai caindo”, Cantos Velhos, Rumos Novos), a monda (“Milho Verde, Cantigas do Maio), a colheita da azeitona (“Maria Faia”, Traz outro amigo também). Em todos perpassa a relação do trabalho com a paz e a beleza da mulher.
“Maria Faia” é uma canção de grande beleza musical e de notável riqueza simbólica. O seu nome vive da fusão de Maria com o nome de uma árvore – Faia - , símbolo da vida na sua expansão e verticalidade bem enraizada na terra. Quem a ela se dirige procura dar-lhe um outro nome, do qual ficam excluídos “rosa” e “cravo” , para escolher “espelho”: “chamo-te antes espelho”. A simbólica multímoda do espelho converge na luz, na procura de verdade, da manifestação da inteligência criadora, da alma, de uma realidade englobante:
Eu não sei como te chamas,
Ó Maria Faia
Nem que nome te hei-de eu pôr
Ó Maria Faia, ó Faia Maria
Cravo não que tu és rosa…
Rosa não que tu és flor…
Chamo-te antes espelho…
Onde espero de me ver
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