VII Colóquio Internacional
"Discursos e Práticas Alquímicas"
LAMEGO - SALÃO NOBRE DA CÂMARA MUNICIPAL
22-24 de Junho de 2007

INICIAÇÃO FEMININA:
ASTROLÓGICA, MÁGICA, ALQUÍMICO-HERMÉTICA
OU CABALÍSTICA?
por ANTÓNIO DE MACEDO

INDICE
Introdução
1. Os Mistérios antigos
2. A origem das Ordens
3. A Ordem de Melquisedec e as formas iniciáticas originárias
4. O estabelecimento das Ordens e os mitos fundadores
5. As duas linhagens: a do Fogo e a da Água
6. As Ordens sagradas primordiais: cainita e sethiana
7. A ROC e a ROT
8. A deusa-padroeira das Tecedeiras
9. A Ordem de Arachne
10. A decaída de Penélope
11. Um fio tradicional alternativo?
12. Das tradições mesopotâmica e judaica à modernidade ocidental
13. E se a ROT afinal não desapareceu?
14. Tradicionismo de ofício — um rito viável?
15. Conclusão provisória
Bibliografia sumária
14. Tradicionismo de ofício — um rito viável?

Dissemos mais atrás que uma possível excepção à condicionante referida quanto à Iniciação feminina na Maçonaria poderia talvez encontrar-se na Carbonária Florestal, sociedade para-maçónica como lhe chamou Oliveira Marques. Os meus parcos conhecimentos da Carbonária não me permitem alongar-me, o que vou alvitrar limitar-se-á a breves interrogações e conjecturas, inspiradas nos textos de Maria Estela Guedes sobre esta temática no site do TriploV, nomeadamente o seu excelente artigo «Maçonaria Florestal Carbonária» para o Dicionário Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal. Sem entrar pelos incertos e ingratos meandros das «origens» — históricas… míticas… — dessa sociedade secreta cuja matéria prima é a madeira (carbono), tenha ela uma milenar origem druida como pretendem alguns, ou tenha surgido no século XI com o conde Teobaldo de Brie que se tornou eremita e foi viver para uma floresta onde aprendeu os segredos de ofício dos carvoeiros («carbonários», de carbono), ou tenha surgido apenas no século XVIII ou mesmo XIX, o certo é que a sua identificação com um material como a madeira a torna de algum modo «parente» da Maçonaria, que trabalha a pedra, pois ambos os materiais, pedra e madeira, são igualmente utilizados na construção da tal «muralha externa» (templo, palácio, casa…) que protege o ser humano da agressiva investida das «trevas exteriores».

Soltando asas à imaginação especulativa, que deduções poderemos aventurar?

Comecemos por referir que a palavra «madeira» vem do latim materia, que por sua vez deriva de mater, «mãe»: os antigos entendiam que a árvore era a mãe do precioso material (lat. materies) de construção, e que o seu tronco é verdadeira mãe dos seus multiplos rebentos — folhas, flores, frutos. Eis uma componente misteriosamente feminina, e não menos misteriosamente alquímica (materia prima), à qual a Carbonária não pode deixar de estar associada! Será curioso notar que o Evangelho de Marcos, o mais antigo dos quatro canónicos, ao referir-se ao ofício de Jesus chama-lhe tektôn: «Não é este o tektôn, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?» (Marcos 6, 3). Geralmente, tektôn costuma traduzir-se por «carpinteiro», mas a verdade é que esta palavra tinha então um significado mais abrangente, de operário qualificado da construção civil, podia ser carpinteiro, pedreiro, ou até arquitecto. Ou seja, Jesus poderia trabalhar tanto a pedra como a madeira, poderia ser tanto um maçon como um carbonário… E aqui chegamos ao ponto aonde eu pretendia chegar. Tratando-se a madeira de um material orgânico, ao contrário da pedra, pode ser lidado iniciaticamente por mulheres, de corpo físico negativo e corpo anímico positivo, na linha das curandeiras-médicas e das tecedeiras.

Por isso me atrevi a presumir, lá mais para trás, que mesmo numa situação tradicionista incerta e de conjectural irregularidade, a iniciação de mulheres na Carbonária talvez não seja tão antinatural como a sua «iniciação» na Maçonaria da Pedra… Será assim? Deixo para outros mais sabedores do que eu a busca e o privilégio de encontrarem a verdadeira resposta.

INICIATIVA:
Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL)
Instituto São Tomás de Aquino (ISTA)
www.triplov.org

Patrocinadores:
Câmara Municipal de Lamego
Junta de Freguesia de Britiande
Dominicanos de Lisboa

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