VII Colóquio Internacional
"Discursos e Práticas Alquímicas"
LAMEGO - SALÃO NOBRE DA CÂMARA MUNICIPAL
22-24 de Junho de 2007

INICIAÇÃO FEMININA:
ASTROLÓGICA, MÁGICA, ALQUÍMICO-HERMÉTICA
OU CABALÍSTICA?
por ANTÓNIO DE MACEDO

INDICE
Introdução
1. Os Mistérios antigos
2. A origem das Ordens
3. A Ordem de Melquisedec e as formas iniciáticas originárias
4. O estabelecimento das Ordens e os mitos fundadores
5. As duas linhagens: a do Fogo e a da Água
6. As Ordens sagradas primordiais: cainita e sethiana
7. A ROC e a ROT
8. A deusa-padroeira das Tecedeiras
9. A Ordem de Arachne
10. A decaída de Penélope
11. Um fio tradicional alternativo?
12. Das tradições mesopotâmica e judaica à modernidade ocidental
13. E se a ROT afinal não desapareceu?
14. Tradicionismo de ofício — um rito viável?
15. Conclusão provisória
Bibliografia sumária
10. A decaída de Penélope

Para melhor intelecção do que se disse no capítulo anterior, acrescente-se uma breve referência a uma outra tecedeira — Penélope.

A lenda de Penélope, a fidelíssima esposa de Ulisses, é bem conhecida. Muitos autores antigos a glosaram mas foi Homero quem pela primeira vez a narrou, na Odisseia. Durante os vinte anos em que Ulisses esteve ausente devido à Guerra de Tróia e às aventuras que lhe sucederam no regresso e retardaram a sua volta ao lar, Penélope sempre resistiu a quebrar os votos matrimoniais. Rodeada de pretendentes que a consideravam viúva, fez saber que escolheria um novo marido apenas quando terminasse uma certa teia que se propôs tecer — a mortalha do sogro dela, Laertes, já muito idoso e não muito distante dos últimos dias de vida. Penélope ordenou às servas que levantassem um grande tear na sala e pôs-se a tecer o funéreo manto; durante o dia, trabalhava no tecido; de noite, porém, às escondidas, desmanchava quanto urdira à luz do dia. Deste modo conseguiu enganar os pretendentes durante três anos, até que foi descoberta — mas Ulisses chegou a tempo e trucidou os pretendentes com requintes de crueldade… (Homero 2003, II, 85-128; XIX, 104-250; XXII, 1-501).

Ao contrário de Arachne, mulher forte da mesma raça das Amazonas que venceram as Górgonas, conquistaram os Atlantes, cercaram Atenas e invadiram o Egipto, até serem vencidas por Teseu (advento do patriarcado), Penélope é a submissa, a que aceita o destino, e a sua teia é a do subterfúgio para permanecer enclausurada no lar, fiel ao homem e a ele submetida. Tão submetida ao homem que obedece ao próprio filho, Telémaco, «para agradar aos deuses». A arte de Penélope não foi, assim, coarctada por nenhuma deusa em cólera, mas tão-pouco se insere numa autêntica tradição iniciática: é apenas a arte e o mester de quem aprendeu dos homens e não dos Mistérios, é a arte das tecedeiras e bordadoras populares, domésticas, que se limitam a transmitir antigos simbolismos e segredos de ofício de mães para filhas mas que ignoram os verdadeiros traçados de Geometria Sagrada, capazes de proteger o templo-corpo do ser humano das fatais arremetidas das «trevas exteriores».

INICIATIVA:
Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL)
Instituto São Tomás de Aquino (ISTA)
www.triplov.org

Patrocinadores:
Câmara Municipal de Lamego
Junta de Freguesia de Britiande
Dominicanos de Lisboa

Fernanda Frazão - Apenas Livros Lda
apenaslivros@oninetspeed.pt