J’ai toujours été étonné qu’on laissât les femmes entrer dans les églises. Quelle conversation peuvent-elles avoir avec Dieu ? - L’éternelle Vénus
(caprice, hystérie, fantaisie) est une des formes séduisantes du diable.
CHARLES BAUDELAIRE, Mon coeur mis à nu : journal intime (1868) |
Eis uma coisa que tem feito correr muita tinta, coisa estranha essa, a da «iniciação feminina». Pois aqui me preparo para fazer correr mais alguma… Aliás o tema deste colóquio sobre «Discursos e Práticas Alquímicas» — colóquio que desde 1999 se vem realizando e afirmando, e sempre inovador e com intervenções de elevada qualidade —, bem se prestava a tais lucubrações, pois o tema deste ano é precisamente «Alquimias do Feminino». Não podia ser mais provocatório nem mais apelativo! Claro que não foi por acaso que fiz anteceder estas despretenciosas cogitações com um sintomático texto de Baudelaire, cuja única desculpa — se é que pode ser-lhe concedida — foi tê-lo desovado em pleno século XIX, quando a Igreja ainda conseguia pensar mais mal das mulheres do que hoje (e a sociedade laica não lhe ficava muito atrás…); a verdade é que duma forma ou doutra parece que as relações da mulher com o sagrado — seja este devocional, seja iniciático — nunca foram lá muito bem compreendidas pelos que se dedicam a investigar estas profundas coisas.
Deixo para outros mais sociólogos, mais antropólogos, mais etnólogos, mais politólogos, mais poetas e mais competentes do que eu a discussão sexo/género que tal temática se arrisca entusiástica e desvirtuosamente a atiçar. Limitar-me-ei a atrever-me com o meu modesto arado a lavrar uns sulcozitos num terreno onde me sinto mais familiarizado: o da Esoterologia. Assim sendo, vamos por partes. Antes de mais, tratemos de bisbilhotar um pouco de história das Ordens iniciáticas, continuando a esgravatar com determinação e paciência até chegarmos, eventualmente — oxalá tenhamos sorte, sabença e inspiração das musas! —, a algum apuramento final. |