VII Colóquio Internacional
"Discursos e Práticas Alquímicas"
LAMEGO - SALÃO NOBRE DA CÂMARA MUNICIPAL
22-24 de Junho de 2007

INICIAÇÃO FEMININA:
ASTROLÓGICA, MÁGICA, ALQUÍMICO-HERMÉTICA
OU CABALÍSTICA?
por ANTÓNIO DE MACEDO

INDICE
Introdução
1. Os Mistérios antigos
2. A origem das Ordens
3. A Ordem de Melquisedec e as formas iniciáticas originárias
4. O estabelecimento das Ordens e os mitos fundadores
5. As duas linhagens: a do Fogo e a da Água
6. As Ordens sagradas primordiais: cainita e sethiana
7. A ROC e a ROT
8. A deusa-padroeira das Tecedeiras
9. A Ordem de Arachne
10. A decaída de Penélope
11. Um fio tradicional alternativo?
12. Das tradições mesopotâmica e judaica à modernidade ocidental
13. E se a ROT afinal não desapareceu?
14. Tradicionismo de ofício — um rito viável?
15. Conclusão provisória
Bibliografia sumária
1. Os Mistérios antigos

Comecemos por uma trivialidade que toda a gente conhece mas vale sempre a pena relembrar: a palavra mistério tem origem na raiz mu-, ou my-, donde derivam dois verbos gregos: myeô, que significa «iniciar nos Mistérios», «sagrar», «instruir», e myô, que significa «fechar a boca ou os olhos», «guardar silêncio». Uma curiosidade menos conhecida é que da mesma raiz derivam o termo latino mutus, «mudo», e o termo grego muthos ou mythos, e isto, em minha humilde opinião, não deixa de ser iluminante: revela-nos que o silêncio se associa ao mito, tal como silenciosa deverá ser a Iniciação Menor, myêsis, que se completa pela Iniciação Maior, teletê, sendo que esta última deriva do verbo teleô, que significa simultaneamente «concluir» e «iniciar», que é como quem diz, «iniciar nos mais altos Mistérios», ou nos Mistérios de plenitude ou de perfeição (Guénon 1986, 123-125). (Complete-se: — o mito, ou o arquetípico mistério do silêncio, perde esse mistério quando se vulgariza ao nível da fábula, ou da mera comunicação verbal: fábula [lat. fabula] deriva do verbo latino fari, fatu, «falar»).

De acordo com este fio condutor, os mistérios (gr. ta mystêria) são a teoria de ritos (gr. ta drômena, «actos») que conduzem iniciaticamente do silêncio à perfeição, e isto tanto no antigo Egipto como na Pérsia, na Síria, na Frígia, na Fenícia, na Grécia… em suma, estamos a referir-nos de uma forma geral aos chamados «Mistérios Antigos», que segundo os autores que os mencionam (Heródoto, Porfírio, Jâmblico, Apuleio, Plutarco, Cícero, Arnóbio, Heliodoro, Luciano, Rufino, etc.) comportariam sete graus iniciáticos. Já os Mistérios cristãos, mais elevados espiritualmente, têm nove graus iniciáticos, ou nove Iniciações Menores, embora se mantenha a ideia de perfeição associada às Altas Iniciações como podemos observar nas epístolas de Paulo. Quando este apóstolo menciona os teleioi, está a fazer uma referência esotérica aos Altos Iniciados nos Mistérios cristãos, e não apenas aos «perfeitos» em religião exotérica cristã, conforme se poderia supor ao ler as traduções eclesiásticas das Bíblias correntes. Veja-se por exemplo o seguinte texto paulino: «Entre os Iniciados [gr. en tois teleiois] porém, falamos sabedoria [gr. sophia]; não a sabedoria deste éon [gr. aiôn] nem a dos chefes deste éon condenados a perecer; mas falamos a sabedoria de Deus [gr. Theoû sophia] em mistério, a oculta, que Deus predestinou antes dos éons para nossa glória [gr. doxa, «opinião», «juízo», «glória», «manifestação»], (e) que nenhum dos chefes deste éon conheceu; pois se a tivessem conhecido, nunca teriam crucificado o Senhor da glória» (1 Coríntios 2, 6-8).

Em certas circunstâncias, a antiga Iniciação numa dada Escola de Mistérios podia ser preparatória para outra mais elevada, como terá sido o caso de Pitágoras que antes de se iniciar nos Mistérios Egípcios começou por ser iniciado nos Mistérios Fenícios: «…Velejou para Sídon, sua pátria natural, convencido que daí mais facilmente passaria para o Egipto. Aí conversou com os profetas que eram descendentes de Mochus [Moisés] o fisiólogo, e com outros, e também com os Hierofantes Fenícios. Foi do mesmo modo iniciado em todos os Mistérios de Byblos e de Tyro, e nas sagradas operações que se realizam em muitas partes da Síria» (Jâmblico, Vita pythagorica, III). Já agora aproveitemos para esclarecer que o termo physiologos, atribuído a Moisés, significa «estudioso da natureza e dos mistérios naturais».

De uma forma geral, na Antiguidade, as iniciações mistéricas eram concedidas sectorialmente — ou a certas castas, ou a um ou outro dos dois sexos; por exemplo as mulheres eram excluídas nos Mistérios Essénios ou nos Mistérios de Mithra, tal como eram excluídos os homens na Ordem das Sacerdotisas de Inanna (Suméria), nas Thesmophorias de Deméter (Atenas) ou na Ordem das Vestais (Roma). Por muito estranho que pareça e por muito que irrite os actuais defensores da «igualdade dos sexos» (vade retro! — vive la petite différence!), isto tinha razão de ser e estava certo, e já veremos mais abaixo porquê. (Eu compreendo que os tais defensores da «igualdade dos sexos» se exprimem mal e quereriam dizer igualdade de oportunidades e direitos, humanos, sociais, políticos, intelectuais, profissionais, etc. etc. e não igualdade tout court, Deus nos livre desta, teríamos de ser todos hermafroditas como os caracóis…)

INICIATIVA:
Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL)
Instituto São Tomás de Aquino (ISTA)
www.triplov.org

Patrocinadores:
Câmara Municipal de Lamego
Junta de Freguesia de Britiande
Dominicanos de Lisboa

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