81
O que acontece não é silencioso. A não ser que sejamos surdos. Mas pode-se admitir alguma descontinuidade perceptiva. Nem tudo é processado como um glissando. Experimentar é focar numa coisa. Focar uma coisa implica desfocar ou ignorar quase todas as outras.
82
A arte procura regular o seu controle através de sucessivas simulações de descontrole.
83
As perguntas procuram caçar-nos. Os simbolos e os mitos são imprecisos. É a sua imprecisão que nos interroga. O homem não existe senão na condição de interrogado. Ser humano é ser examinado. Nenhuma resposta é feita para abolir as questões.
84
As palavras estão interessadas que nós estejamos interessadas nelas. Os que se interessam por nós são poucos. Mas interessam-se por nós ainda mais do que as palavras.
85
Não progredimos, apenas acumulamos complexidade. Não há riqueza sem complexidade. O ouro é uma forma tosca de pobreza.
86
Faltam-nos dimensões. O passado é a radiação de algo arquivado, de uma informação repetível e redundante. O passado não pode tomar conta do presente mas deforma-o estilisticamente. O presente é o hábito que nos habita.
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O universo é um intervalo que não se consegue espelhar – nem finito nem infinito, nem limitado ou limitado.
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O universo não acumula, mas há partes do universo que acumulam e outras que vão sendo expropriadas.
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São os adjectivos e as afecções que são efectivos, as coisas são ilusões ou transições dotados de contornos. Os verbos resultam da interacção entre adjectivos. A acção é a atracção das interfaces.
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As fotografias antes de serem registos de estados de luz são fotomontagens. |