131
A inexpressão é uma expressão demasiado polida. A vida ainda não é expressividade, mas é o que torna a expressividade expressiva.
132
Há algo degradante em pedir desculpas que torna este género de acto em tema heroico.
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A humanidade é o menos pitoresco e o mais infimo dos cenários a que a natureza se permite. Ao lado da maior das ambições do homem a dimensão do mundo humilha-nos sempre. O environment não é os arredores das nossas casinhas, nós é que somos o sombrio e impotente arredor das desmesuras.
134
Teimamos em que há um centro, mas tudo parece girar à volta de tudo desviando-se da sua rota discretamente.
135
Cansamo-nos de negar as realidades internas ou externas. Relativizamo-nos até à nausea. Sentimo-nos importantes na forma como assumimos a desimportância. Tudo isto é bonito, mas não queremos para já morrer já.
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No momento em que as coisas se dão como assombrosa e incómoda familiaridade já não nos sentimos excluídos da vida ou do mundo. Somos patológicamente desalienados. Consumimos o nosso consumo. Tornámos as diásporas impossiveis.
137
Não há palavras sem autor. Mesmo o interprete mais desleixado é autor. Palavras que não se falam, não se lêem ou não se ouvem não existem senão como não-palavras. As palavras são citações, reconhecimentos. Somos nós que constituímos as nossas autoridades sobre cada palavra. O que pusermos nas palavras é o que elas nos podem vir a dar. Mas essa dádiva é quase sempre maior do que as expectativas iniciais.
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Não estamos interessados sequer em criar perguntas, mas em fornecer uma verdadeira máquina de guerra dissimuladamente interrogativa. Todos os aforismos subentendem, não uma questão, mas uma rede de perguntas ainda por formular.
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O autor é importante como alguém que convida para a festa. Por mais que a sua existência seja duvidosa ele pode marcar-nos para sempre. O autor existe nessa generosidade fantasmática que se pode tornar tirânica ou libertadora.
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A perfeição só é admissível como paródia funesta. Cada homem é o centro do seu descentrado mundo. Cada homem destroi desleixadamente os centros que lhe são alheios.
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