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O homem só deixa de existir quando se vende totalmente ao environment, isto é, quando sacrifica defenitivamente a autonomia do seu anti-environment.
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A evolução não é um palco. Há progressos organicos mas não há progressos culturais. A cultura é uma miragem provocada por uma interiorização da natureza na tremenda perversão natural que é a técnica.
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A experiência é o antidoto do fetichismo. A psicologia organiza em coutadas as interfaces a que chamamos consciência. Há algo de sanguinário na palavra mundo. A palavra mundo é a excitante hipótese de uma exterioridade que nos garante que participamos em algo, quer com o corpo, como vibração organizacional e física, quer com a consciência, como expressão de permanentes encontros com o exterior. Sabemos que há algo ilusório nesses encontros. Mas é nessas ilusões que encontramos o deleite que nos permite viver. A ilusão é o alimento da alma.
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O passado aparece-nos fragmentado. As memórias são reliquias que excitam uma confiança mágica. A memória tenta garantir-nos que o passado existiu. A história é a manipulação interpretativa de vários planos de ilusão.
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As linguagens procuram escolher-nos como vítimas perfeitas da sua sobrevivência. O acaso existe como efeito da degradação das linguagens. O homem encontra-se entre o apetite omnivoro das linguagens e a sua sábia degeneração. A degeneração das linguagens alimenta o homem e fortifica-o para resistir aos aspectos tiranicos das linguagens. A escolha está na entropia do que organiza.
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A informação torna-nos mais informais. A conectividade vem facilitada. A informação é carnívora. Não procura mais informação, mas mais corpos. A abstracção é uma deformação da alegoria. A alegoria infere a diferença como imagem. A abstracção infere a diferença como supressão sintética das imagens.
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Uma referência é uma alergia provocada pela mudança. Quando o meio muda, o meio que está a desaparecer parece-nos um mosaico que articula citações de outros meios que desapareceram.
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Temos que lidar com a inabilidade em traduzir. Traduzir idealmente é uma traição à tradução radical. A moderação das traduções fieis é um equivoco. A informação ataca-nos de vários lados como uma invasão marciana. A escolha existe, mas não somos só nós que a fazemos. A inibição é mimética. Todo o animal é um tradutor. A inabilidade desinibe-se nas traduções pulsionais. As pulsões são respostas estratégicas a pressões ambientais.
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A informação é a circulação predadora do informe. O seu aspecto processual não lhe confere um rosto. Há algo de acéfalo na pura informação. Mas as formas são-lhe miméticamente sensíveis.
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A informação é o aborto das formações. A informação é o que sobra à desmesura dos afectos. A informação não produz feitos mas efeitos. A afectação dos efeitos parece algo trivial. Queriamos algo mais estável? Sabes que tudo é óbvio e contentas-te com a manta dos simulacros. Ou és expropriado pelo vórtex dos dissimulacros?
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