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As modas fornecem o clima mimético a partir do qual entramos na auto-organização. A importância do ornamento é a de que nos fornece padrões sensíveis e partilháveis. O ornamento e a moda substituem a excitação da natureza numa simplificação ainda mais excitável. Essa excitação tranquiliza pela padronização mas cria uma tensão e uma ansiedade onde a natureza efectiva falta.
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Forjamos zonas de circulação que nos permitem atrair as coisas como desfinalizadas e desfundamentadas. Já não estamos no estado de crítica da crítica da crítica de qualquer principio metafísico ou racional. Estamos mais interessados na emotividade teorica e no entusiasmo da experimentação dos processos. Não precisamos de nos mover porque tudo nos move.
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Os Media não comunicam, apenas excomungam. Essa violência excomungante atiça-nos a condição de malditos. Mais do que alienados somos exilados numa maldição que dificilmente se ousa assumir.
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O que controla o controle está a entrar fora de controle.
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O homem está programado para adiar qualquer sentimento de plenitude de significado, o que esvaziaria, obviamente, a sua vida de qualquer espectativa de mais significado.
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Procuramos cada vez mais que as nossas experiências se pareçam com as vertigens cinematográficas, mas ainda não adquirimos uma capacidade natural de montar o tempo. Cada vez mais a vida é uma colagem em que o lado épico se tornou eliptico.
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O cinema tenta reinventar a condição intra-uterina. Temos a sensação errada que cada filme inicia qualquer coisa e que estamos metidos ao barulho. Mas os filmes desiniciam-nos sem nos finalizarem. Quando terminam espectralizam a nossa vida. Mas não durante muito tempo.
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Não há simultaneidade nem sequênciamento. Só temos o presente com o qual nunca chegamos a ser familiares. É essa falta de familiaridade que nos obriga a inventar mitologias. A causa das mitologias é uma disfunção na assimilação do tempo.
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O homem tem uma vontade adaptativa que não se contenta com o seu ambiente. Por isso cria espaços de inadaptação, com os quais enceta lutas absurdas. As cidades são complexos esquemas que satisfazem um certo desejo de auto-agressão. O homem, porém ainda não se deixou derrotar ou morrer.
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Os perigos existem como molduras excitantes de eventuais acções. Não é o interprete que propõe decifrações, são as decifrações que procuram actores que as representem decentemente. O que torna tudo um pouco teatral, e, consequentemente, menos ilusório.
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