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MARIA DO SAMEIRO BARROSO
POEMAS DO SILÊNCIO

INDEX

De que fala o silêncio?
Poema com desenhos de António Ramos Rosa
Os violinos e os nomes
Os pomos de Dioniso
As hipérboles da luz
Ciclos eternos
Os anéis da claridade
O corpo e os seus lugares
Os nenúfares de música

Os pomos de Dioniso

 

Já zumbiam os besouros, nos poemas de Teócrito,

e o amor não fazia mais que tomar de assalto

o peito coberto de flores,

a escutar as neblinas do mar.

 

Nos casulos da vida, já os frutos caminhavam,

entre o vinho e os cedros,

que um concerto do luar desvelava,

nos acordes das cítaras.

 

Era ainda um besouro ínfimo, mas o silêncio

já se iluminava, como um relâmpago,

e os pastores proclamavam as abelhas, o mel,

a paixão agridoce, a caminho das Talísias,

celebrando Deméter, as colheitas, a luz da abundância.

 

E os pomos de Dioniso luziam, por entre clâmides

de Siracusa,

a fronte cingida por lódãos, choupos brancos;

presentes que agradavam aos deuses,

sob Selene que inspirava funcho, chamas,

vinho puro, cristais ardentes.

 

Já zumbiam os besouros, nos poemas de Teócrito.

Num epitalâmio para Helena, havia cigarras,

orvalho, doces oaristos e murmúrios nocturnos,

......................................................................................escutados

.........................................................................sob incenso de asfódelos.

In Mealibra. Revista de Cultura, do Centro Cultural do Alto Minho,
Viana do Castelo, Janeiro. de 2001