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MARIA DO SAMEIRO BARROSO
POEMAS DO SILÊNCIO

INDEX

De que fala o silêncio?
Poema com desenhos de António Ramos Rosa
Os violinos e os nomes
Os pomos de Dioniso
As hipérboles da luz
Ciclos eternos
Os anéis da claridade
O corpo e os seus lugares
Os nenúfares de música

Os nenúfares de música

Pelo espaço dos anjos exilados,

nenhuma harpa, nenhum hino se levanta,

apenas um véu e a sua sombra,

a veemência pura dos clarões trazendo

um hálito de estátuas, um poema

de Rilke: — An die Musik (1).

 

E nada, a não ser as frágeis linhas

do silêncio me trazem o azul

e as suas margens,

a terra e as suas ressonâncias,

os palácios que deslizam

sobre os violoncelos do silêncio

 

— os vazios da memória explodindo,

as imagens despertando os nenúfares

brancos, os nenúfares vazios,

os nenúfares de música;

o coração das estátuas desdobrando-se,

um sopro de Dioniso desbravando

as trevas, o fogo,

num hausto luminoso, indizível,

ou num abraço da energia suprema

.........................................................onde tudo se arrebata.

 
(1) À música

In Palavra em Mutação , N.º 2,
Outubro de 2002 / Abril, Porto, 2003