Claudio Arrau tocando a Sonata Waldstein Opus 21
de Beethoven, a primeira germinação, um novo ciclo
― as foices derrubadas na noite plena de luz,
quando desbravava as ânforas e o licor,
e borboletas agilíssimas inscreviam o fogo
e o silêncio, que girava em painéis de bruma.
Foi assim também quando comecei a escrever.
A luz germinava.
O cimento e a harmonia ligavam o aroma azul,
a linhagem dos cravos.
Depois escutei a voz do mundo e as águas oleosas
escorreram, acumulando-se numa hipérbole negra.
Mas também as águas da manhã nasciam
e a aurora elevava-se por entre a lua e os barcos,
um cais imaginário, lírios extensos, torreões brancos
e, da chuva e do mar, nasciam gotículas
iridescentes, música suavíssima, xilofones de ouro.
Deambulava ao acaso e abria livros eternos
como a morte, recolhendo a sua épica celeste
no coração citrino das ervas e dos trevos,
caminhando sobre a luz, a fronte ungida pelas águas,
saboreando a palavra que convoca
a Grécia antiga, os mistérios de Elêusis, a Primavera,
o início das flores,
os cânticos gravados nas árvores, nos segredos
nocturnos, nas hipérboles da luz;
.........................................................o peito imerso
.......................................................................no aroma soberbo das glicínias. |