A um terceiro nível, o sonho terá um valor simbólico complexo. Possui uma enorme riqueza de símbolos, carregados de atracção e de aversão, que vão para além da compreensão do sonhador. Nesses sonhos são aflorados os desejos humanos de busca de significado para a vida, nomeadamente através de aspectos sexuais, físicos e sócio-emocionais.
Carl Jung entendeu esse sonho como distinto dos outros sonhos e particularmente simbólico. Esse tipo de sonho iria guiar a conjectura de se observar um inconsciente colectivo. Portanto, não foram os presságios (prognósticos, prenúncios, agouros, pressentimentos...) mas as grandes narrativas mitológicas (1) a interessá-lo. Seria grande o sonho que implicasse mudanças emocionais poderosas e que não mais se esquecesse. Ele decorava e interpretava os seus sonhos desde a infância (2). Assim, também Jung escolheu a sua vocação profissional a partir de dois sonhos:
«No primeiro sonho, eu estava num bosque escuro situado no rio Reno. Cheguei a uma colina, a um campo de sepulturas e comecei a cavar.
Passado algum tempo, vi ossadas de animais pré-históricos. Fiquei muito interessado.
Naquele momento soube que tinha que estudar a natureza, o mundo em que vivíamos e que nos rodeava.
Depois, surgiu o segundo sonho.
Estava de novo no bosque que era atravessado por cursos de água.
No local mais sombrio, havia um lago circular rodeado por cursos de água.
Semi-submersa, encontrava-se uma criatura estranha e maravilhosa. Era um animal circular, com reflexos opalescentes brilhantes, formado por células ou órgãos em forma de tentáculo.
Fez despertar em mim um enorme desejo de conhecimento e acordei com o coração aos pulos.
Esses dois sonhos fizeram-me escolher o estudo das ciências e dissiparam todas as minhas dúvidas.» (palavras de Jung no filme The Wisdom of the Dream, 1989).
Carl Jung decidiu estudar na Universidade de Basileia - Suíça. O que o sonho escolhiaporsi era uma de três possibilidades de formação: arqueologia, antropologia ou ciências da natureza. Decidiu estudar ciências. Seria médico. Na sua posição, o inconsciente ditou-lhe o que fazer e como proceder.
Através da sua experiência, Jung concebia os sonhos como criativos, permitindo, através deles, formular até as nossas tomadas de decisão de carácter inconsciente. E Jung usou na sua actividade clínica esse método, considerando os sonhos realidades. Através de sonhos, tanto ele como Alfred Adler (1870-1937), outro discípulo desavindo com Freud, pretenderam estabelecer ligações entre certos sonhos e certas personalidades (3).
Curiosamente, já Gregório de Nissa (335-395) escrevera no seu Tratado que as paixões da mulher e do homem se exprimem nos seus sonhos (4). Associam-se paixões a uma parte do inconsciente, funcionando este a nível pré-linguístico – o seu conteúdo não se coloca em palavras.
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