A intertextualidade ocorre quando há uma relação entre textos, seja ela implícita ou explícita. No romance de Nicodemos a intertextualização com outras obras é clara; o próprio autor, no posfácio, diz que “Da primeira à última linha do livro o leitor poderá encontrar vestígios, sincronizados na narrativa, de mais de uma centena de livros, escritos em boa parte do século XVIII” (SENA, 2003: 131.). Há vários momentos de diálogos explícitos, por exemplo, com o relato de viagem do alemão Hans Staden, Duas Viagens ao Brasil, pois para iniciar a sua narrativa ele retira deste, como já mencionado desde o primeiro capítulo, acontecimentos e personagens, ou seja, o roteiro para criar a sua história.
Ultimamente, quando as mãos assim não se ocupam, seguram um velho e carunchento livro que veio dar em terra depois do naufrágio dum patacho português, e que os índios, não vendo nele qualquer utilidade, entregaram-me. Já o li tantas vezes que conheço de revestrés o seu conteúdo, reinventando as páginas extraviadas sem precisar usar toda a minha imaginação, uma vez que o livro traz uma história com a minha bem parecida. (1)
Essa intertextualidade, porém, não impede que o autor crie o seu próprio texto, pois o que ele faz é aderir originalidade a um texto já conhecido. Nicodemos apenas utiliza-se de partes do livro do alemão Hans Staden para dar iniciação ao seu processo criador e original. Portanto, o que ocorre na verdade é o que chamamos de referenciação, uma vez que a intertextualidade servirá apenas para acentuar a capacidade criadora do autor em expressar a subjetividade do narrador. O autor não se prende na história do alemão, ele a usa como cenário para iniciar seu romance e daí por diante dar continuidade à sua história, e com muita originalidade. |