A relação entre a Literatura e a contemporaneidade faz com que os textos das obras atuais sejam influenciados pela pluralidade de tendências que estamos passando. Nos dias de hoje, vivemos em um mundo destituído de valores, com padrões diferenciados e uma variedade cultural muito grande. Essa mistura de valores, linguagens, costumes e etc. reflete-se em nossa literatura.
No romance aqui estudado, encontramos o hibridismo no uso da língua tupi, que no texto é tão importante quanto a língua portuguesa. O autor usa o tupi com praticamente a mesma freqüência com que usa o português. Em um dos diálogos entre Potira e Alexandre, chega até a misturar o português com o tupi.
“Requau será maha xa nehnhe xa icó?” (você entende o que estou falando?)”, pergunto, admirado.
“Xa cenu, intimahã xa quáu” (ouvi, mas não entendi), ela responde.
“Reiúmuhê putári será portugues nhehenga?” (você quer aprender português?). “Intimahã iauçú reté” (não é muito difícil), digo-lhe, comovido com o interesse da cunhantã.
“Xa có putári” (quero). “Xa nhenhe depressa” (hei de falar depressa).
“Reiúpirú ãna será renhehe” (já está começando a falar), incentivo-a.
“Abá nheenga oicoeté” (língua dos índios é muito diferente).
“Iaçó iaiumuhê” (vamos aprender), digo-lhe.
“Auiébé!” (ótimo!). “Mas nde pereba aiposanongine” (antes curarei tuas feridas), fala Potira, já misturando tupi com português, como se inventasse outra língua. (1)
O hibridismo também ocorre devido à presença de vários temas que compõem a narrativa. A mistura entre fantasia, mito, sonho e o real, a questão filosófica da vida e o após-morte que é discutida ao longo do livro em paralelo à relação amorosa entre Potira e Alexandre, além do uso de expressões populares, bem atuais para uma história ocorrida no século XVIII, misturadas a um texto de linguagem poética e extremamente cuidada. |