Amarrotado no tapete brilha um papel,
E a música balança-o no acordeão:
“Tudo pára quando a gente faz amor”.
Imagino o teu quarto,
Decorado com lembranças,
Os artistas vivendo o teu rosto.
E eu, aqui, com teus olhos nos meus,
Aumento o vazio que sofro.
A colcha ainda mexida,
Um museu de poeira com teu cheiro.
Respiro fundo numa fífia do artista,
E simplesmente aí.
Queria que as traves ecoassem lágrimas
Num castanho derretido,
E que a palavra saudade surgisse na madeira crua,
Palavra gasta de um povo.
Mas transpira nos poros,
Na mais pura evidência.
O doirado do fogo hoje mais aceso,
Um poema.
Dei-te muito,
Dei-te o que sou.
Obrigada por seres tu,
Quem me espera no portão.
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