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3.2 A teologia como pratica social |
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A reflexão teológica não se pode reduzir a utilização de um depósito da fé, que teria de ser traduzido na linguagem dos homens. A teologia confronta-se com uma Revelação que só pode manifestar através de um social histórico, de uma língua e de uma geografia, e através quais a fé faz pressentir poderosa e frágil a presença activa de uma outra Palavra. Quer isto dizer que a teologia não é mais do que uma pratica social, a pratica de uma instituição? De modo nenhum. Ela é ao mesmo tempo pratica social e instituição. A teologia segundo Defois não se pode separar do seu grupo produtor, os teólogos. Tem de ter em conta as diversas posições entre eles, e ainda no interior do campo eclesial as posições do magistério e dos leigos, e no conjunto da sociedade enquanto intelectuais, tem de se ter em conta que eles são especializados na produção cultural. É normal que a teologia enquanto discurso produzido no campo dos discursos concorrentes, ateste na ordem da sua escrita, a preocupação sobre o seu poder e a sua verdade. Ela tem tendência a reproduzir o discurso que legitima o monopólio que detém, empurrando para as margens os discursos não autorizados. Como quer que seja a autoridade da teologia está ligada ao sistema hierárquico da Igreja que determina a qualificação ou a desqualificação do dizer o verdadeiro: “A legitimidade ou o índice de credibilidade são dependentes do sistema hierárquico da Igreja; a relação à mensagem, qualquer que seja o seu conteúdo, é determinado pela relação à instituição que a profere” . Defois O mérito das analises contemporâneas do discurso e das ciências sociais é o de lembrar à teologia que ela só pode cumprir a sua missão no interior de um campo social. Produção simbólica, no meio de outras produções simbólicas, a teologia suporta numerosos constrangimentos próprios a este tipo de pratica, a começar pela necessidade de afirmar a sua legitimidade e de garantir a sua credibilidade. Ligada á instituição não pode ignorar o perigo de se auto-posicionar como discurso dominante ou disfarçar a contingência do lugar e os mecanismos complexos da sua elaboração. Há portanto, na prática um problema de poder e de verdade no seio de qualquer acto teológico, já que estamos na terra e não no céu. O modo como compreendemos a teologia tem de ter em conta os seus lugares, os seus arquétipos e os seus paradigmas. Á força de se querer fazer a teologia da ideologia, se não tomarmos cuidado acabaremos por esquecer a ideologia da teologia, pelo menos num certo ponto de vista. É este o preço que temos de pagar para que a teologia restituída á particularidade dos seus lugares de elaboração, e logo á sua pluralidade, possa na sua ordem, refractar a catolicidade da fé cristã num mundo que se tornou mais consciente da sua pluralidade. Enquanto que a ocultação do particularismo faz da verdade, infinitamente rica, a verdade de um poder, o reconhecimento da contingência das aproximações da verdade, restaura a verdade no seu verdadeiro poder. Na Igreja o medo, “o maior obstáculo ao desenvolvimento”, recordando as afirmações já citadas de Nuno Miguel, provocou ao longo dos séculos muitas traições à verdade. O caso Galileu é só um dos muitos exemplos. Recorde-se, o que João Paulo II disse a propósito de Galileu em 1979, num discurso à Academia Pontifícia das Ciências (DC 1775 (1979) “este sábio sofreu bastante da parte dos homens... e dos organismos da Igreja” |
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