Cadernos do ISTA . número 17
A verdade em processo

Luís de França
O ESPLENDOR DA VERDADE
– AS VERDADES DA FÉ

 
Preliminares
1. O que é a verdade?
1.1. Verdade do Evangelho e doutrina
1.2. A Verdade como promessa
1.3. A Verdade como testemunho profético -
2. O Poder e a Verdade –
3. Verdade da fé cristã - o lugar da teologia
3.1. Função da teologia na busca da verdade
3.2 A teologia como pratica social
4. Verdades da fé - o lugar da doutrina
4.1. Relação entre verdade e história
4.2 Verdade e história -
4.3 Interpretação doutrinal dos dados históricos –
4.4. Do bom ou mau uso do Denziger
5. Exercício do Magistério
5.1.Evolução irreversível da consciência moderna
5.2. A recepção na Igreja
Epílogo - O Esplendor da Verdade

PRELIMINARES

Quando se discutiu o programa desta série de colóquios sobre a verdade em processo foi dito que: “a verdade é indispensável a qualquer sociedade humana. Mas o tempo não é de feição para se falar de verdade ...É preciso defender o valor da verdade contra os cépticos pós-modernos, que negam a sua existência, e contra os defensores do bom senso, que a dão por adquirida.”

 Julgo que este pressuposto se aplica inteiramente ao tema que nos deve ocupar no colóquio de hoje sobre as verdades da fé. Por isso tenho presente a interrogação que interiormente colhi quando se deu o colóquio inaugural sob a responsabilidade do frei Mateus e que versava sobre – o que é a verdade evangélica. Registei como que um bálsamo, as afirmações então feitas a partir do texto de Evangelho, que nos asseguram que Jesus é o “Caminho, a Verdade e a Vida”, e de que modo a contemplação dessa verdade nos dá ou devia dar o desejo e a ver em plenitude. Mas durante a primeira conferência me interroguei sobre o estatuto epistemológico dessa afirmação, a quem se destina essa verdade, qual o processo da sua legitimação.

Por outro lado também ecoam em mim, e graças á gravação facultada pelo Henrique Robalo, as interrogações feitas pelo Dr. Nuno Miguel na sua intervenção nesta série de conferências.

“Nesta vida quando muito podemos procurar uma verdade possível, aquela que é vivida e procurada pelo desejo. Mas também foi dito que a verdade pode ser transformada pelos nossos desejos e pelos nossos medos. O que nos torna diferentes são os nossos desejos, porque temos na vida desejos diferentes e medos diferentes.

Nuno Miguel acrescentou que os desejos influenciam a nossa própria memória ou melhor o modo como apoiados na memória construímos a nossa própria história, isto é, como contamos a nós próprios a verdade passada.

Foi lembrado que o desejo do poder perturba muito a vida das pessoas. Falou-se da sedução forma desviada de exercer o poder. E a terminar foi dito que o desejo do poder pode ser o resultado do medo e que o medo é o maior obstáculo ao desenvolvimento da humanidade”.

 Estimulado por estas interrogações decidi abordar o tema que me foi proposto. Na Igreja. os crentes, na busca da verdade e depois na sua proclamação estão imunes a todas estas influências aparentemente muito humanas ou temos de ter as precauções epistemológicas necessárias quando falamos de verdades da fé?

Como se processa o discurso religioso quando procura afirmações de verdade necessárias á vida dos crentes? Como se relaciona a verdade da fé com o poder ? E qual o lugar da história na elaboração da verdade que se quer incarnada? Inevitavelmente temos de falar da função da teologia na busca da verdade assim como dos conteúdos das verdades proclamadas e o que é mais recente dos modos da sua recepção. Para terminar com uma referência ao confronto também inevitável do magistério da Igreja com a consciência contemporânea . Contudo, e a fim de evitar equívocos sobre o alcance desta reflexão, comecemos por evocar o que é, ou deve ser a verdade segundo a Escritura.

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