Cadernos do ISTA . número 17
A verdade em processo

Luís de França
O ESPLENDOR DA VERDADE
– AS VERDADES DA FÉ

 
Preliminares
1. O que é a verdade?
1.1. Verdade do Evangelho e doutrina
1.2. A Verdade como promessa
1.3. A Verdade como testemunho profético -
2. O Poder e a Verdade –
3. Verdade da fé cristã - o lugar da teologia
3.1. Função da teologia na busca da verdade
3.2 A teologia como pratica social
4. Verdades da fé - o lugar da doutrina
4.1. Relação entre verdade e história
4.2 Verdade e história -
4.3 Interpretação doutrinal dos dados históricos –
4.4. Do bom ou mau uso do Denziger
5. Exercício do Magistério
5.1.Evolução irreversível da consciência moderna
5.2. A recepção na Igreja
Epílogo - O Esplendor da Verdade

3. Verdade da fé cristã - o lugar da teologia
3.1 Função da teologia na busca da verdade

Dizer que a teologia é um discurso da verdade ninguém se surpreende é a isso que estamos habituados, mas dizer que a teologia é um discurso de poder é no mínimo pouco conveniente afirmá-lo em meios eclesiásticos. Os crentes não podem aceitar o pressuposto das ciências humanas para quem a teologia não faria mais do que dissimular o poder real ou o poder suposto que ela tem, e logo como alguns cientistas afirmam, a sua verdade não seria mais do que a verdade do seu poder.

No Ocidente a teologia define-se geralmente como um discurso racional graças ao qual o crente se esforça de compreender aquilo que crê. E assim é claro que a teologia com os seus modelos diversos e os seus diferentes géneros literários é apercebida como fundamentalmente e epistemologicamente relativa ou derivada. Ela não tem poder sobre a Revelação que ela deve acolher. Noutros termos, a verdade que a teologia manifesta é uma verdade que a precede e que a excede. Por outro lado a teologia não tem a guarda da verdade da fé; esta tarefa pertence de pleno direito ao magistério. Então o poder da verdade estaria assim do lado do magistério? De modo nenhum. O próprio magistério tira a sua legitimidade da fidelidade á sua escuta da Palavra de Deus .É essa a doutrina do Concílio Vaticano II (Dei Verbum nº 10). Por isso a teologia está ancorada na verdade da Revelação e é distinta do magistério doutrinal.

Assim qualquer cristão é por natureza e por princípio um teólogo já que de direito e de princípio, a teologia pertence à fé. Contudo a teologia supondo um trabalho cientifico, qualquer cristão sem preparação não poderá exercer essa tarefa. Mas por outro lado cada teólogo também á partida não é mais do que um cristão do seu tempo à escuta da Palavra de Deus.

Esclarecido pela luz da fé e apoiando-se sem restrição sobre os recursos que lhe oferece a razão, o teólogo é de certa maneira devedor, simultaneamente da comunidade crente e diante da comunidade cientifica. Face á primeira, acolhe a Palavra viva; face á segunda, partilha a preocupação do rigor nas disciplinas que utiliza. É no ponto de encontro destas duas vertentes que se encontra a sua axiomática. Deve ao mesmo tempo ser um crente sério e um exegeta, historiador, sociólogo, filosofo, com toda a probidade e disciplina cientifica requerida para essas tarefas.

Mas acima de tudo o teólogo tem de estar atento ao uso da razão pois pode e de múltiplas maneiras transformar a verdade que confessa a fé em necessidade de razão e em vez do escândalo da razão, preferir o domínio e o poder do saber.

A teologia deve fazer um grande esforço para compreender, mas só compreende aquilo que ela já acredita. Ela é um diálogo interior à fé; ela não tem poder sobre a fé, porque está submetida à verdade.

As tentativas de domínio da fé sobre a razão, feitas no século XIX deixaram marcas ainda hoje visíveis na dificuldade de diálogo entre a ciência e a religião. Durante anos de centralismo doutrinal para não dizer opressão ideológica, o magistério da igreja católica confundiu representações contigentes da fé com a própria fé e a teologia identificando-se com o magistério, um e outro contribuíram para cavar o fosso entra a fé e o pensamento contemporâneo . A oposição entre ciência e fé, levada até á oposição foi para gerações de crentes um fruto amargo.

Pronunciando-se sobre tudo para se proteger de tudo, multiplicando os males entendidos, essa atitude imperial da teologia continua ainda hoje a causar algumas suspeições e desconfianças entre os praticantes das ciências humanas e filosóficas. Saúda-se portanto como muito encorajadora a posição de dois cientistas portugueses na sua recente obra intitulada “ Assim na terra como no céu".

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