Pedro da Silveira tende na sua escrita para a pessoalização/ individualização da ilha e das suas gentes, pressupondo um carinho evidente pelas tradições, pela vernaculidade e percursos de vida do povo anónimo. Não deixa, neste contexto, de ser evidente o seu desdém face ao cosmopolitismo presunçoso que as capitais alimentam. A poesia de Pedro da Silveira está envolvida com a matriz humana da ilha, com a sua condição tutelar e com a influência que exerce sobre os seus sobreviventes absortos. Notamos uma aproximação do poeta às gentes e ao húmus nativo por ele ser o poeta-pintor de circunstancialismos e de quotidianidades ilhoas: “Antonho Cristove,/ tripulante de todos os veleiros/ correu todos os oceanos,/ conhece todos os portos,/ sabe a fúria dos ciclones/ e as calmarias do Golfo…// e ficaram marcadas no seu corpo/ raivas de capitães americanos,/ de capitães açoreanos,/ de capitães de Cabo Verde…” ( S ilveira , 1952: 45). Pedro da Silveira é um autor implicado com o tempo e com a vertente universalizante da ilha, ilha essa deixada pelos que vão à demanda das Américas perdidas, dos que cumprem, enfim, uma odisseia fatal: sair, lutar, ganhar, perder, mas voltar sempre ao chão de nascimento para morrer, depois de ter cumprido a viagem e “as velhas fomes gritando anseios de largar” ( S ilveira , 1952: 47): “Companheiros de aventura,/ há tanto tempo os perdeu:/ água do mar os levou,/ terra da terra os cobriu…// Ti Antonho Cristove conta a sua vida/ e os seus olhos cansados/ olham ainda pra o mar/ num jeito de quem navega” ( S ilveira , 1952: 47).
Este ponto de vista reforça a visão de Álamo de Oliveira quando afirma que o poeta em questão “é capaz de olhar o Mundo sob múltiplas abrangências e de entender e interpretar os sinais que os tempos vão debitando” ( O liveira , 2004: 75-80). |
Palavras-chave : ilha, isolamento, emigração, tempo e memória, poesia açoriana, raízes, realismo. Key-words : island, isolation, emigration, time and memory, Azorean poetry, roots, realism.
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