Em Sinais de Oeste (1962) é possível falarmos de uma poética da água e do sangue. O livro em questão começa com um texto dedicado ao mar enquanto elemento vitalizador, oposto à terra e ao fastio que ela representa. Ela (terra) incita à partida porque “Horizonte verdadeiro é o da água e céu” ( S ilveira , 1962: 11). Se a terra é segura e previsível, e por isso mesmo pouco sedutora, o mar já é do domínio do medo e do temível; o mar é a probabilidade, a promessa, o outro lado, o olhar: “Fiquem os restelos para os secos e pecos/ que tiveram medo da navegação./ A mim, o Mar!” ( S ilveira , 1962: 12).
O ímpeto para a largada (o “Além-de-Aqui”) já está inscrito no sangue. Julgamos, pois, que a partida, mas sobretudo a volta ao lugar da ilha são constantes temáticas na poesia de Pedro da Silveira não só em A Ilha e o Mundo (1952), como também em Sinais de Oeste. O poeta, enquanto ilhéu, divide-se entre o ficar e o partir, esboroando as fronteiras do “longe” e do “aqui”. O mar representa uma figura omnipresente na sua vida, desde a infância – “Mais uma vez estou aqui./ O mesmo mar de outrora,/ azul e cor-de-cinza./ Violácea, a paisagem./ E esta paz de espelho velho” ( S ilveira , 1962: 15), exercendo sobre ele uma influência ensurdecedora. Por outro lado, será importante acrescentar que na obra poética de 1962 muitos textos, reportando-se ao contexto da ilha, apostam num realismo cru e aproximado ao concretismo que o ambiente exige: marés, ave, vento, pessegueiro, aromas, pedra, erva, entre outras, são palavras que, fixando o lugar, ilustram a circunstância ambiental insular do Oeste: “Uma ave, no vento./ É o grasnido/ da ave.// Que alegria lhe desata,/ nos nervos,/ o vento!// mais que sentido:/ visível,/ o vento!” ( S ilveira , 1962: 17). Corroborando este olhar impressionista, centrado na realidade exterior e objectiva, que paira sobre Sinais de Oeste, está o texto «Outonal (I)».
O poema é uma demonstração dos sentidos, com especial destaque do olhar que observa caprichosa e aturadamente a “tarde cor d’água”, os “figos maduros pendendo”, a “abelha diligente”, as “flores de canarroca”, descobrindo no verde abundante da paisagem cambiantes de monotonia e de prisão – “verde fúria de verde acorrentada,/ ócio verde, verde espanto de verde:/ escuro, aguado, claro, duro verde!...” ( S ilveira , 1962: 18). O verde é, portanto, a cor da ilha e a que melhor simboliza a vida demorada, parada. |
Palavras-chave : ilha, isolamento, emigração, tempo e memória, poesia açoriana, raízes, realismo. Key-words : island, isolation, emigration, time and memory, Azorean poetry, roots, realism.
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