TEATRO

 
GIL VICENTE
Auto da Barca do Inferno
 
 

Auto de moralidade composto por Gil Vicente por contemplação da sereníssima e muito católica rainha Lianor, nossa senhora, e representado por seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei Manuel, primeiro de Portugal deste nome. Começa a declaração e argumento da obra. Primeiramente, no presente auto, se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos supitamente a um rio, o qual per força havemos de passar em um de dous batéis que naquele porto estão, scilicet, um deles passa pera o paraíso e o outro pera o inferno: os quais batéis tem cada um seu arrais na proa: o do paraíso um anjo, e o do inferno um arrais infernal e um companheiro.

O primeiro intrelocutor é um Fidalgo que chega com um Paje, que lhe leva um rabo mui comprido e üa cadeira de espaldas. E começa o Arrais do Inferno ante que o Fidalgo venha.

Versão em prosa, com a sequência:

Diabo
Vem o Fidalgo e, chegando ao batel infernal, diz:

Vem um Onzeneiro, e pergunta ao Arrais do Inferno, dizendo:

Torna o Onzeneiro à barca do Inferno e diz:
Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais do Inferno:
Chega o Parvo ao batel do Anjo e dlz:
Vem um Sapateiro com seu avental...
Torna-se à barca dos danados, e diz:
Começou o frade a dar lição d'esgrima...
Tanto que o Frade foi embarcado, veio üa Alcoviteira...
Chegando à Barca da Glória diz ao Anjo:
Tanto que Brízida Vaz se embarcou, veo um Judeu...
Vem um Corregedor, carregado de feitos...
Estando o Corregedor nesta prática com o Arrais infernal...
E tanto que foram dentro no batel dos condenados...
Vem um homem que morreu Enforcado...
Vêm Quatro Cavaleiros cantando...
Entrai, entrai>>>>>>>>>>>>>>>>>
 
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