|
||||||||
Chegando à Barca da Glória diz ao Anjo: | ||||||||
Barqueiro mano, meus olhos, prancha a Brísida Vaz. ANJO: Eu não sei quem te cá traz... BRÍZIDA Peço-vo-lo de giolhos! Cuidais que trago piolhos, anjo de Deos, minha rosa? Eu sô aquela preciosa que dava as moças a molhos, a que criava as meninas pera os cónegos da Sé... Passai-me, por vossa fé, meu amor, minhas boninas, olho de perlinhas finas! E eu som apostolada, angelada e martelada, e fiz cousas mui divinas. Santa Úrsula nom converteu tantas cachopas como eu: todas salvas polo meu que nenhüa se perdeu. E prouve Àquele do Céu que todas acharam dono. Cuidais que dormia eu sono? Nem ponto se me perdeu! ANJO Ora vai lá embarcar, não estês importunando. BRÍZIDA Pois estou-vos eu contando o porque me haveis de levar. ANJO Não cures de importunar, que não podes vir aqui. BRÍZIDA E que má-hora eu servi, pois não me há-de aproveitar!... Torna-se Brízida Vaz à Barca do Inferno, dizendo: BRÍZIDA Hou barqueiros da má-hora, que é da prancha, que eis me vou? E já há muito que aqui estou, e pareço mal cá de fora. DIABO Ora entrai, minha senhora, e sereis bem recebida; se vivestes santa vida, vós o sentirês agora... |
||||||||