O livro como nós o conhecemos hoje, surge no Mundo Ocidental por volta do Século II d.C., fruto de uma revolução que representou a substituição do Volumen pelo Códice. As primeiras comunidades a aderir foram as cristãs ainda no Século II, pois na sua totalidade os manuscritos da Bíblia encontrada a partir deste período, usam este tipo de suporte. O mundo greco-romano irá ter relutância em usa-lo, e só cerca do Século V, o começarão a utilizar.
Eram, muitas as vantagens desta nova forma de suporte: a utilização dos dois lados do suporte, a reunião de um número maior de textos num único volume, absorvendo o conteúdo de diversos rolos, a indexação permitida pela paginação, a facilidade de leitura. Enquanto que o Volumen exigia para ser desenrolado e lido a utilização das duas mãos, o Códice depositado em uma mesa pode ser lido sem o auxílio das mãos, liberando-as para o exercício de anotações. As mudanças, como se vê, eram significativas: tornava-se possível a redução dos custos de fabricação e, ao mesmo tempo em que se facilitava a leitura, concedia-se ao leitor a oportunidade de anotar,
comparar e criticar o texto lido. Com o Códice cria-se, também uma tipologia formal, abrindo caminho para toda a padronização de formatos associada a géneros e tipos de livro. Nestes vários séculos que nos separam da passagem do Volumen ao Códice, outras transformações significativas ocorreram ao âmbito do livro e da leitura. A partir do século XIV os impressores passaram a responsabilizar-se por todas as marcas, títulos, capítulos e cabeças de páginas, eliminando a intervenção directa do corrector ou titular do livro. A separação entre as palavras, o estabelecimento de parágrafos, a numeração de capítulos, entre outros, são adventos que irão interferir directamente na leitura e que tomarão possível a proliferação de um leitor silencioso, que se vale apenas do olhar para se apropriar do texto. Todo o aparato da leitura que desde a Antiguidade era predominantemente um acto sonoro e colectivo, transforma-se num acto solitário.
O leitor silencioso, em geral, confunde-se com o leitor extensivo, sendo o oposto do leitor intensivo, predominante em toda a Idade Média, ou seja, um leitor que dispõe apenas de um pequeno número de livros, e que transforma a leitura destes textos num acto sagrado.
O advento da imprensa de tipos móveis, criou condições para que o leitor silencioso proliferasse por toda a Europa. De facto, uma verdadeira cultura letrada se desenvolveu à medida que os originais se multiplicavam e que a oferta de títulos aumentava vertiginosamente. Enquanto a leitura em voz alta permanecia forte nos meios populares e rurais, dedicando-se a um pequeno número de obras, em geral romances, contos populares e poemas, a leitura com os olhos dedicava-se à mais ampla gama de assuntos, em especial os científicos e filosóficos, era portanto, praticada por um determinado grupo de leitores mais erudito e urbano. Com o advento das novas tecnologias, proliferam novos modelos de suporte para a leitura. Desta feita, o texto aparece-nos, não através do Volumen, nem do Códice ou Livro, mas no Écran do Computador. Hoje o texto electrónico, permite-nos que possamos ler num suporte muito próximo ao modelo do Livro ou Caderno. Chegamos assim ao mundo dos eBooks.
|