HELENA FIGUEIREDO

Ecos de mim

Maria Madalena
Lembrando Florbela Espanca

Aquelas vozes, aqueles vultos negros,
Pérfidos rostos, punhos cerrados.
Espreitam pela fresta da porta,
Onde cabe apenas a voz:
O que queres perversa mulher,
Como ousas invadir este reino,
Manchar o puro, o inocente,
Com tuas manhas diabolicamente sedutoras?

De novo…
Aquelas vozes, aqueles vultos negros,
Pérfidos rostos, mãos de pedra,
Avançam para a praça onde cabem todas as vozes:
O que queres mulher adúltera,
Como te atreves
A invadir este reino,
A profanar o sagrado,
A ser Eva com maçãs envenenadas?
És pecadora,
Tens de morrer!
A mulher no meio da praça …
Honesta sem preconceitos,
Amorosa sem luxúria,
Casta sem formalidades,
Recta sem princípios,
Mas sempre viva,
A palpitar de seiva quente
Como as flores selvagens,
Não sente a dor dos insultos e das pedras.
Moribunda,
Levanta o rosto,
E dos seus olhos
Vítreos,
Exangues,
Surge
Resplandecente
Uma misteriosa flor azul.

Helena Figueiredo

Helena Figueiredo nasceu em 9 de Março de 1959, numa pequena aldeia do concelho de Carregal do Sal, distrito de Viseu. É licenciada em Educação de Infância, e desde os 21 anos que trabalha com crianças entre os 3 e os 6 anos. Entre 2003 e 2006 prestou assessoria ao Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal.
Entrada no TriploV: Abril de 2008