Aquelas vozes, aqueles vultos negros,
Pérfidos rostos, punhos cerrados.
Espreitam pela fresta da porta,
Onde cabe apenas a voz:
O que queres perversa mulher,
Como ousas invadir este reino,
Manchar o puro, o inocente,
Com tuas manhas diabolicamente sedutoras?
…
De novo…
Aquelas vozes, aqueles vultos negros,
Pérfidos rostos, mãos de pedra,
Avançam para a praça onde cabem todas as vozes:
O que queres mulher adúltera,
Como te atreves
A invadir este reino,
A profanar o sagrado,
A ser Eva com maçãs envenenadas?
És pecadora,
Tens de morrer!
A mulher no meio da praça …
Honesta sem preconceitos,
Amorosa sem luxúria,
Casta sem formalidades,
Recta sem princípios,
Mas sempre viva,
A palpitar de seiva quente
Como as flores selvagens,
Não sente a dor dos insultos e das pedras.
Moribunda,
Levanta o rosto,
E dos seus olhos
Vítreos,
Exangues,
Surge
Resplandecente
Uma misteriosa flor azul.
Helena Figueiredo
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