HELENA FIGUEIREDO

Ecos de mim

Introrso

Vive longe a opressão dos caminhos,
E eu aqui, nua de suspiros,
Avanço na penetração de mim.
Quero-me toda,
Sem setas,
Sem sinos a tocar,
Sem a poeira dos corpos.
O quadro preto apagou o giz,
Relíquia de outras eras.
No eco dos túneis grito a liberdade,
Afago de outro começo.
No fígado resta o negro do festim,
Mas a claridade renasce.
Quero-me toda
Na escada,
No brilho,
Nas entranhas,
Mas quero-me toda.
Solta nos balões de gás,
Com olhos de sirene.
Nos gritos, o alfabeto imaginário
De uma alegria só minha.
Ter perdido o rio que sobe,
Para vogar num mar de cloretos
Com peixes e jóias no fundo.
Quero-me toda,
As unhas e a alma,
O ar e o suor.
Cheiro-me, e sou eu
No espelho dos sentidos.

Helena Figueiredo

Helena Figueiredo nasceu em 9 de Março de 1959, numa pequena aldeia do concelho de Carregal do Sal, distrito de Viseu. É licenciada em Educação de Infância, e desde os 21 anos que trabalha com crianças entre os 3 e os 6 anos. Entre 2003 e 2006 prestou assessoria ao Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal.
Entrada no TriploV: Abril de 2008