Vive longe a opressão dos caminhos,
E eu aqui, nua de suspiros,
Avanço na penetração de mim.
Quero-me toda,
Sem setas,
Sem sinos a tocar,
Sem a poeira dos corpos.
O quadro preto apagou o giz,
Relíquia de outras eras.
No eco dos túneis grito a liberdade,
Afago de outro começo.
No fígado resta o negro do festim,
Mas a claridade renasce.
Quero-me toda
Na escada,
No brilho,
Nas entranhas,
Mas quero-me toda.
Solta nos balões de gás,
Com olhos de sirene.
Nos gritos, o alfabeto imaginário
De uma alegria só minha.
Ter perdido o rio que sobe,
Para vogar num mar de cloretos
Com peixes e jóias no fundo.
Quero-me toda,
As unhas e a alma,
O ar e o suor.
Cheiro-me, e sou eu
No espelho dos sentidos.
Helena Figueiredo
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