Eu tenho a senha
Não vou doar meus órgãos
Vou expô-los no mercado
Livre do medo
Da morte do trem azul
De passagem vou pelo cone sul
Descer a escada em espiral
Tatear com as duas mãos o cego que me guia.
A entrada não é por aqui.
Penso: (Arrotando migalhas)
- Deram para mim um embornal,
O que faço com o punhal?
Já não sei.
Respiro o mundo:
Tem cheiro de fezes no bueiro
Tem mar no azul do céu
Tem um dedo sujo (na vidraça)
Um gato na janela
Uma criança solta
Um homem no umbral.
(esticado no varal, o límpido dia fede a cândida ternura)
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