Escorre, não a pele,
Mas o óleo pigmento de azul.
Tem nome esta fome –
De nada adianta dizer no oco: miséria.
O idiota sou eu, a olhar mariposas vadias.
Tem cheiro acre o ocre disposto
Ao acaso do dia.
Tem cores demais contidas
No espaço/ no quadro de Picasso.
É a mulher azul.
Um Picasso desfigurado
Vale um poema de moleque ressabiado?
Um franzir de olhos,
Movimento de pupilas,
Dois braços tesos no ar.
O dragão soltando fogo pelas ventas...
Espiral! Um saco de lixo e que tudo o mais
Vá pro inferno!
Tudo é movente quando dois membros
Dispostos rentes ao inacabado formam o desenho
Áspero do mundo.
Olhos de azeviche – tudo que aqui se apunhala
Soa a ressaca de Capitu.
Aqui jaz o pulo do gato.
Gato miado, quando morto,
Move a máquina de costura:
Tripas, ventre, miolos, e o coração?
Todos os expostos dizem – ai, que dor!
Não é cruel a nudez da mulher azul
Exposta no quadro de Picasso?
Não.
Cruel é a vida!
Este cozido de gato ao molho pardo.
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