CUNHA DE LEIRADELLA:
|
INDEX |
Ficha técnica AÇÃO
|
Olga - Quem será? Será o... |
Olga - Quem será? Será o... Vaneide - O Beto não é, não. Tá viajando. Haroldob - (A Elza) Esse rapaz ainda tem coragem de vir aqui? (A Vaneide.) Eu já falei... Vaneide - Pô, papai, qual é? O Beto nunca lhe aporrinhou nem lhe pediu dinheiro, não, tá? O interfone toca outra vez. Elza - Maria, veja quem é. Olga - Só pode ser coisa urgente. Haroldo - A esta hora? Maria (No interfone, ao mesmo tempo) - Alô? Vaneide - Pô, papai, e coisa urgente tem hora? Haroldo - Pergunte quem é, Maria. Maria (No interfone) - Quem é? Olga - Nesta casa, o que mais tem é adivinho. Só falta, mesmo, é acertar na loteria. O resto... Maria (No interfone, ao mesmo tempo) - Quem? Elza - Quem é, Maria? Maria (No interfone) - Um momentinho. (A Elza.) Diz que... Haroldo(A Maria) - Cuidado. Não abra sem ver quem é. Todo dia tem assalto e seqüestro por aí. Elza - Pode ser uma visita, Haroldo. Haroldo - Visita? E quem ia... Vaneide - Pô, papai, a gente não tem amigos, não? Maria (No interfone, ao mesmo tempo) - O quê? Um momentinho. Olga (A Elza, ao mesmo tempo) - Pode ser visita, sim. (A Vaneide.) Hoje é sexta-feira, e às sextas-feiras... Haroldo(A Elza) - Ninguém visita ninguém a esta hora. É hora de jantar. Maria (A Elza) - Diz que é um telegrama. Haroldo(A Elza) - Telegrama? Telegrama de quem? (Levanta-se e desliga a televisão.) Eu não tou esperando telegrama de ninguém. Vaneide - Pô, papai, e telegrama se espera? Haroldo(A Maria, sentando-se) - Veja direito quem é. Olga(Olhando a televisão desligada) - Nesta casa espera-se tudo. Elza Mamãe! (A Haroldo.) - Pode ser alguma coisa importante. Haroldo - Mas que coisa importante, Elza? E a esta hora? Maria (No interfone, ao mesmo tempo) - Um momentinho. Vaneide - Pô, papai, e coisa importante tem hora? Elza(A Haroldo) - Pode ser do banco. Você não diz que com essa tal de globalização... Haroldo - Elza, pelo amor de Deus, nenhum banco manda telegrama pra gerente. Maria (No interfone) - Um momentinho. Um momentinho só. (A Elza.) Tá dizendo que é urgente. Olga (A Elza) - Quem sabe morreu a tia Zezé? Haroldo (A Olga) - Lá vem a senhora com bobagem. Olga - Bobagem é... Elza (Ao mesmo tempo) - Diz que é urgente, Haroldo. Vaneide - Pô, mamãe, se é urgente, manda subir! Maria - Abro, D. Elza? Haroldo(A Maria) - Não. Primeiro veja de onde é. Vaneide - Pô, papai, e telegrama se sabe de onde é? Maria (No interfone, ao mesmo tempo) - De onde é, hem? Olga(A Elza) - Vai ver, é a tia Zezé. (A Vaneide.) Eu tenho certeza que é a tia Zezé. Ainda ontem sonhei com ela e com água parada. E sonhar com água parada... Vaneide - Pô, vovó, tem dó! Maria (No interfone) - Um momentinho. (A Elza) Diz que é de fora. Olga (A Elza) - É a tia Zezé. Só pode ser. Água parada... Haroldo (A Olga) - A senhora e os seus sonhos. Maria (No interfone, ao mesmo tempo) - Um momentinho. Um momentinho só, viu? Olga (A Haroldo, ao mesmo tempo) - São mais certos os meus sonhos do que as certezas de muita gente, viu? Vaneide - Pô, vovó, dá um tempo, tá? Maria (A Elza, ao mesmo tempo) - Diz que, se não quiser receber, que vai embora. Haroldo(A Elza) - Mas de quem será esse telegrama? Elza - E eu sei, Haroldo? Olga - É da tia Zezé, tenho certeza! Elza - Mamãe, se fosse da tia Zezé... Vaneide - Pô, mamãe, telegrama pode ser de qualquer um, merda! Elza - Vaneide! Haroldo(A Elza) - Será que é mesmo dos correios? Vaneide - Pô, papai, e telegrama vem de onde, hem? Maria (No interfone, ao mesmo tempo) - É mesmo dos correios? Haroldo - Mas que merda! Elza - Haroldo! Haroldo - Não era pra perguntar. Era pra ver. Maria (A Haroldo) - Diz que é mesmo dos correios. Olga (A Elza) - Só pode ser da tia Zezé. Faz quanto tempo que a prima Ló diz que ela tá morre não morre, hem? Elza - Mamãe! Vaneide(A Haroldo) - Eu vou ver. Maria (No interfone) - Um momentinho. (Vaneide levanta-se.) Um momentinho só. Vaneide(Na janela, a Haroldo) - É boné de carteiro, viu? Amarelão. Haroldo - Tem certeza? Vaneide - Pô, papai, boné gema de ovo se vê longe! E são dois. Haroldo (A Elza) - E dois carteiros pra quê? Vaneide(Sentando-se) - Pô, papai, de noite até carteiro tem medo. Elza - Pode abrir, Maria. Maria (No interfone) - Abriu? É, apartamento 501. Não, é um por andar. (Coloca o interfone no gancho. A Elza.) Já tão subindo. Haroldo(A Elza) - De quem será esse telegrama, hem? |