CUNHA DE LEIRADELLA:
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INDEX |
Ficha técnica AÇÃO
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Haroldo - Minha filha, por favor... |
Haroldo - Minha filha, por favor, não desminta seu pai. Vaneide - Ah, papai, o senhor não desmente até o dentista da mamãe, não? Olga - É isso mesmo. Ele nunca acreditou nas suas cáries, minha filha. Elza - Mamãe, por favor! Olga - Nunca que acreditou, não! E é por culpa dele... Haroldo (A Olga) - Minha culpa? Culpa de quê? Olga - Culpa de quê? Quem foi que abriu a porta? Haroldo - E quem foi que veio com o telegrama da tia Zezé? Elza - Mamãe! Haroldo! Olga - O senhor não presta, viu? Haroldo - A senhora não pode... Olga - Posso, sim! Posso, sim! O senhor não presta mesmo, não! Haroldo (Começando a levantar-se) - A senhora... Olga (A Picuinha, apontando Haroldo) - Olha ele! Olha ele! Picuinha - Pô, doutor, o senhor não diz que é home de respeito, não? Haroldo (Sentando-se) - Foi ela que começou. Ou o senhor não viu, não? Vaneide - Isso, velho! Vai, vai firme! Picuinha (A Vaneide) - Pô, moça! Firula (Ao mesmo tempo) - Picu. Picuinha (Continuando) - Assim, também não, né? Manera, pô! Manera! Firula - Picu, porra! Vamos trabalhar ou vamos... Picuinha - Porra, Firu, não enche também, não, tá? Firula - Começa, não! Começa não, que eu tou avisando! Picuinha - Ah, Firu, sem essa, tá? (A Elza.) Cadê a D. Maria, hem, dona? Olga - Ela tá... Firula (A Olga) - Qual que é, pô! O Picu perguntou foi pra ela ali, tá? Picuinha (A Elza, ao mesmo tempo) - Como é que é, dona? Vai falar ou... Elza - Ela tá na cozinha. Firula -Tá vendo, Picu? (Põe as mãos nos quadris e imita Elza.) Ela tá na cozinha. Pobre é merda mesmo. Ou tá em cana ou na cozinha. Picuinha (A Elza) - Chama ela, dona. Chama ela, que a gente já tá atrasado, ó... (Elza levanta-se.) Levanta, não! Elza (Sentando-se) - Mas eu só ia... Firula - Não ia, não! Picuinha - Chama daí mesmo. Haroldo - Quê que há, mulher? Chama logo! Olga (A Haroldo) - Machão mesmo, hem? (A Picuinha.) É um infeliz. Haroldo (A Olga, levantando-se) - Olha aqui, sua, eu não admito... Picuinha (Obrigando Haroldo a sentar-se) - Porra, doutor! Firula (A Picuinha) - Ó, só! Ele não ademete... Picuinha - Ademete? Admite, sua besta! Firula - Isso, não! Xingação, não! Picuinha - Porra, Firu, qual que é, hem? Foi brincadeira, merda! Firula - Brincadeira ou não, eu não ademeto... Picuinha - Admi... Firula (Avançando para Picuinha) - Eu avisei! Eu avisei! Picuinha - Pára, porra! (Firula pára instantaneamente.) Vamos trabalhar. Firula Melhor mesmo! (A Elza.) Como é, dona? Cadê a D. Maria? Elza (Chamando) - Maria! Ô, Maria! Haroldo - Mais alto, mulher! Olga (A Picuinha, apontando Haroldo) - Ó... Ó... Lá tá ele, tá vendo? Picuinha - Pô, doutor, o senhor é home inteligente, nós somo burro... Firula - Peraí! Peraí! Burro... Picuinha - Cala essa boca, merda! Firula - Burro, não! Burro, não, que eu avisei! (Empurra Picuinha e grita.) Burro, não! Burro, não! Picuinha - Pára de berrar, ou quer acordar todo mundo, animal? Firula (Mesmos gestos e mesmo tom de voz) - Eu avisei! Eu avisei! Picuinha - Firu, porra! (Gritando.) Cala a boca e senta, merda! Firula - Mas eu avisei! Picuinha - Senta! Firula - Mas tu sabe que... Picuinha - Senta, caralho! (Firula senta-se. A Elza.) Cadê a D. Maria, dona? Ela é surda? Elza - Deve tar no quarto. Olga - Deve tar vendo televisão. Ou, então, tomando banho. Vaneide (A Picuinha) - Quer que eu vá chamar? Picuinha - Vai. Mas cuidado, viu? Nada de grito. |