CUNHA DE LEIRADELLA:
Brazilian way of life (comédia)

INDEX

Ficha técnica
Personagens
Cenário único

AÇÃO

 

Elza grita no quarto e Haroldo quase se solta.

Haroldo (A Vaneide) - Tá vendo? Tá vendo sua mãe? Eu sabia!

Firula imobiliza Haroldo e Elza grita de novo. Olga e Vaneide levantam-se.

Olga (Gritando) - Quer que vá aí, minha filha?

Elza (Off, voz rouca) - Não!

Haroldo consegue soltar-se e corre para o quarto. Firula corre atrás e agarra-o.

Firula - Porra, doutor! Se manca, né?

Elza grita outra vez. Um grito longo, relaxado.

Vaneide (Sentando-se) - Senta, vó. Liberou.

Olga (Sentando-se) - É. Parece que liberou mesmo.

Haroldo e Firula rolam pelo chão, embolados.

Vaneide - Coitado do papai. Já não dá mais no couro mesmo.

Olga - Nunca deu.

Vaneide - Nunca?

Olga - Quer dizer, pelo menos, uma vez parece que ele deu.

Haroldo consegue soltar-se, corre para o quarto e tenta abrir a porta.

Firula (Correndo atrás de Haroldo, gritando) - Corre, Picu! (Agarra Haroldo.) Ô, Picu, caba logo, que o home tá que tá!

A porta da cozinha abre e Maria entra.

Maria (A Firula) - Mas que porra de zorra é esta, que não se pode nem mais ver novela, hem?

Haroldo (Apontando Firula) - Foi ele que...

Firula (Largando Haroldo) - Foi eu, não!

Vaneide (A Maria) - Foi a mamãe.

Maria - Quê que ela quer?

Vaneide - Queria!

A porta do quarto abre e Picuinha entra.

Haroldo (A Maria, apontando Picuinha) - Esse homem é um devasso!

Picuinha - Eu, doutor? (A Maria.) D. Maria...

Firula (Ao mesmo tempo) - Xinga, não, doutor! Xinga, não que senão...

Maria (Gritando) - Cala a boca todo mundo!

Haroldo (Apontando Picuinha) - Maria, esse homem...

Maria - Cala a boca, não escutou, não?

A porta do quarto abre e Elza entra.

Maria - A senhora tá bem, D. Elza?

Elza - Eu? Ah, Maria, no céu!

Vaneide (A Olga, apontando Elza) - Tá que tá!

Olga - Tá mesmo.

Haroldo (Ao mesmo tempo) - Eu sabia, Elza! Eu sabia!

Elza - Se sabia, por quê que não soube? Soubesse!

Maria (A Elza) - E tão brigando por causa disso, é?

Elza (Apontando Haroldo) - Ele que tá brigando. Eu tou ótima!

Haroldo - Elza, eu não admito...

Firula (A Picuinha) - Tá vendo? Agora é ele que não ademete.

Haroldo (A Firula) - Cala a boca, sua besta!

Firula (Avançando para Haroldo) - Xingação, não! Xingação...

Maria (Gritando) - Senta todo mundo, porra! (A Elza.) A senhora tá bem, mesmo, D. Elza?

Elza - Ah, Maria, tou melhor do que bem. Lavei a alma!

Maria - Tá vendo, Dr. Haroldo? Quem manda não entender de sabão?

Olga (A Maria) - Esse homem só entende é de maldade.

Haroldo - E a senhora entende de quê? O Severino que o diga.

Olga - Homem sem moral. Cafajeste.

Elza - Haroldo, cala a boca! Mamãe!

Vaneide - Güenta, velho! Vai, vó!

Olga - Vou mesmo! (Grita.) Homem sem moral! Cafajeste!

Picuinha (A Firula) - Puta que o pariu. Que fria a gente entrou, hem, Firu?

Firula - É, Picu. Vambora, que deste mato não sai cachorro, não.

Picuinha - Não é cachorro que sai do mato, não, ô burraldo, é coelho.

Firula - Começa, não! Começa, não, que eu já falei!

Maria (A Picuinha e a Firula) - Cala essa boca aí, ô!

Picuinha - Ô, D. Maria...

Maria - Cala a boca, já falei!

Picuinha - É que nós já tamos de saída. O Firu ainda tem que...

Maria - Vai calar ou não vai?

Olga começa escorregando na cadeira.

Vaneide - Vó!

Elza (Ao mesmo tempo) - Mamãe!

Maria (Ao mesmo tempo) - D. Olga! (Segura Olga e senta-a.) Quê que a senhora tem?

Olga - Eu também tenho alma, Maria.

Maria - Não me diga que a senhora...

Olga - Claro que eu digo! (Agarra Picuinha.) Eu também quero lavar a alma!

Picuinha (Tentando afastar Olga) - Quê que é isso, dona? Sai pra lá, sai!

Vaneide - Segura, vó! Pega no sabão!

Picuinha (Soltando-se e correndo para junto de Maria) - Ô, D. Maria, pelo amor de Deus, me livra dessa aí! (Olga corre atrás dele e os dois ficam correndo em volta da mesa.) Socorro, D. Maria, me livra dessa! Me livra dessa, D. Maria!

Olga - Eu também tenho alma! Eu também tenho alma!

Picuinha - Firu, segura a velha! Segura a velha, Firu!

Firula (A Maria, apontando Picuinha) - Doidou?

Picuinha - Ô, D. Maria, pelo amor de Deus!

Olga - Eu vou lavar! Eu vou lavar!

Vaneide (Subindo na mesa e batendo palmas) - Lava mesmo, vó!

Olga - Eu vou lavar! Eu vou lavar!

Elza - Lava, mamãe! (Sobe na mesa e bate palmas) Pega ele e lava tudo! Tudinho!

Vaneide - Vem, papai!

Elza - Vem, Haroldo! Deixa de caretice, merda!

Firula - Pô, doutor, não vai proveitar , não?

Maria - Vai, doutor! Ou vai agora ou nunca mais.

Haroldo tem uma leve hesitação, mas levanta-se e corre, e apanha o telegrama no chão, junto da porta. Olga agarra Picuinha, arrasta-o para o quarto e fecha a porta.

Picuinha (Off, gritando) - Socorro! Polícia! Chama a polícia, Firu!

Haroldo sobe na mesa e abraça Elza e Vaneide.

Haroldo (Gritando e agitando o telegrama, frenético) - Manda ler o telegrama, minha sogra! Todo! Todinho!

Maria e Firula abraçam-se e gritam em coro Um, cem, mil, viva o correio do Brasil!, Um, cem, mil, viva o correio do Brasil!, enquanto

A LUZ APAGA EM RESISTÊNCIA

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