CUNHA DE LEIRADELLA:
Brazilian way of life (comédia)

INDEX

Ficha técnica
Personagens
Cenário único

AÇÃO

Maria pega os pratos e os talheres, e entra na cozinha.

Vaneide - Pô, papai, telegrama pode ser de qualquer um, não pode, não?

Olga (A Vaneide) - Tenho certeza que é da tia Zezé. Só pode ser!

Haroldo - A senhora sempre tem certeza.

Olga - E tenho mesmo. Mas antes não tivesse, não.

Vaneide - Pô, vovó, não vai começar agora, vai?

Olga - Não fui eu que comecei.

Elza - Chega, mamãe! A senhora já não disse o que queria? Disse. Portanto...

Olga - Não disse, não, minha filha. Não disse, não, mas, um dia, ainda vou dizer.

Haroldo - Por quê que não diz logo, hem?

Elza - Haroldo!

Haroldo - Sempre ameaçando, sempre ameaçando, parece até lombriga, pô!

Elza - Por favor, Haroldo, tamos na mesa.

Olga (A Haroldo, ao mesmo tempo) - Pode deixar que, um dia, eu digo.

Vaneide - Pô, vó, dá um tempo, vai!

A campainha toca. Maria aparece na porta da cozinha. Haroldo levanta-se.

Haroldo (A Maria) - Pode deixar, eu atendo. (Maria fecha a porta.) Quem é?

Homem (Off) - Telegrama.

Haroldo - Telegrama pra quem?

Vaneide - Pô, papai, só pode ser prá gente, né?

Homem (Off, ao mesmo tempo) - Pro dono da casa.

Elza - É pra você, Haroldo.

Olga (A Vaneide) - Quer apostar que é da tia Zezé?

Vaneide - Pô, vovó! (A Haroldo.) Pô, papai, abre logo!

Elza - Abre, Haroldo.

Haroldo abre a porta, mas deixa-a presa na corrente de segurança.

Homem (Off) - Identidade, por favor.

Haroldo - Identidade? Identidade pra quê?

Homem (Off) - Pra ver se é o senhor mesmo.

Elza - Tá certo, né, Haroldo?

Haroldo tira a corrente de segurança. Dois homens fardados de carteiros empurram Haroldo e entram. Um deles fecha a porta.

Haroldo - Mas o que é isto?

Homem 1 (Entregando um telegrama a Haroldo) - Toma!

Homem 2 (Apontando um revólver) - Chiu!

Olga - Ai, meu Deus, é um assalto!

Elza - Mamãe!

Vaneide - Vó!

Homem 2 - Chiu! (Vaneide levanta-se. A Vaneide.) Senta! (Vaneide senta-se. A Haroldo, apontando Olga.) Falou e disse. Isto é um assalto!

Olga - Eu sabia! Eu sabia!

Vaneide - Pô, vó, fica fria. Não tá vendo que é só assalto, não?

Haroldo (A Olga, ao mesmo tempo) - A senhora sempre sabe tudo.

Vaneide (Continuando) - Se fosse seqüestro...

Homem 1 (A Haroldo e Vaneide) - Ô, não escutou, não? Isto é um assalto. E a gente aqui é Picuinha e eu sou Firula.

Haroldo (Deixando cair o telegrama no chão) - Mas os senhores...

Picuinha - Todo mundo, ó, boca de siri! (Empurra Haroldo com o revólver.) Pra lá. Vamos!

Olga (A Vaneide, ao mesmo tempo) - Não pode, chama a polícia!

Elza - Mamãe!

Vaneide - Pô, vó, não tá vendo...

Picuinha - Boca calada, todo mundo! (A Haroldo.) Senta logo. Senta! (Haroldo senta-se.) Isso. Agora... (Firula faz gestos com a boca, como se falasse, mas não emite nenhum som.) Quê que tá fazendo aí, ô? (Firula continua com os mesmos gestos.) Tá o quê? (Firula continua.) Fala logo, merda!

Firula - Pô, Picu, tu não mandou todo mundo calar a boca, não?

Picuinha - Eu mandei calar, mas foi eles, porra!

Firula - Ah, foi eles? Tudo bem, tudo bem. Eu esqueci. Vamos começar?

Picuinha - Vai. (Firula ajeita as calças na cintura e pigarreia.) Vai logo, merda!

Firula (Sorrindo) - Boa noite, gente.

Picuinha - E é assim?

Firula - E não é, não?

Picuinha - Ô, cacete, cadê o...

Firula - É mesmo! (Tira o revólver do bolso e sorri.) Boa noite, gente. (Ninguém responde. A Picuinha.) Será que eu falei muito baixo?

Picuinha (A todos) - Gente, o meu amigo ali é gente muito fina e só tá querendo fazer a coisa na maior educação, entendeu? (A Firula.) Vai. (Firula ajeita as calças na cintura e pigarreia.) Vai, porra!

Firula (Sorrindo, mais alto) - Boa noite, gente. (Ninguém responde. A Picuinha.) Será que todo mundo é surdo?

Picuinha - Surdo uma porra. (Ameaça com o revólver) Quê que há? Ninguém tem educação, não, puta merda?

Haroldo - Boa noite.

Picuinha - Isso, doutor!

Elza - Boa noite.

Vaneide - Boa noite.

Picuinha - Legal! (A Firula.) Agora, vambora. (A Haroldo.) Ô, doutor, onde que...

Firula - Pô, Picu, assim não dá, não! (Aponta Olga.) Aquela ali, ó... Depois, diz que a gente é que é tudo sem educação.

Picuinha - Pô, Firu, mas tu, hem?. (A Olga.) Ô, dona, como é que é? (A Firula.) Vai.

Firula (Sorrindo, mesmo tom) - Boa noite, dona. (Olga não responde. A Picuinha.) Assim não vai dar, não, Picu.

Picuinha (A Olga) - Porra, ô figura, não tá vendo a educação do home ali, não?

 
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