Paul Churchland aplica à formação dos conceitos e juízos éticos o mesmo esquema que se aplica à formação dos conceitos em geral, à aquisição do conhecimento com base no funcionamento do cérebro caracterizado por um processo distribuído em paralelo. Neste sentido, o conhecimento é obtido através da aprendizagem de protótipos ou exemplos, os quais constituem a estrutura neuronal daquilo a que chamamos racionalidade. A ideia de ética que este autor apresenta tem pouco a ver com as decisões racionais e livres do sujeito tradicional.
“A imagem da pessoa enquanto ser moral que adquiriu um conjunto de capacidades cognitivas e comportamentais está em claro contraste com ideias mais tradicionais do ser moral como alguém que decidiu seguir uma série de normas (p.e., ‘Mantém-te sempre fiel às tuas promessas’, etc.) ou, alternativamente, como alguém que é possuído por uma série de desejos irresistíveis (p.e., maximizar a felicidade geral, etc.). Estas duas explicações mais tradicionais estão muito desfocadas.” (1995: 292-293).
É claro que Churchland não ignora que o céptico poderá sempre colocar-lhe a questão meta-ética acerca do fundamento de todo o comportamento ético. A resposta do autor é muito vaga, o que não pode deixar de revelar a debilidade da sua argumentação:
“O céptico poderá sempre perguntar: porque devo seguir tais regras? Ou: o que acontece se eu não tiver tais desejos? Se o carácter moral consiste na posse de diversas capacidades perceptivas, computacionais e comportamentais, então a pergunta do céptico transforma-se na seguinte: porque devo adquirir tais capacidades? E a resposta é: porque elas são claramente as capacidades mais importantes que ele alguma vez aprenderá.” (ibid., 293-294).
Churchland não explica em que sentido utiliza a expressão “capacidades mais importantes”, pelo que a sua resposta ao céptico está longe de ser convincente.
|