O JARDIM NOS MITOS DA CRIAÇÃO DO MUNDO
Alexandra Soveral Dias e Ana Luísa Janeira

INDEX

Sumário
PARTE I
O JARDIM NOS MITOS DA CRIAÇÃO DO MUNDO
A questão das Origens ou quem somos de onde vimos, para onde vamos?
O jardim original
Outros jardins mitológicos
Árvores mitológicas
Conjecturas sobre a origem do Jardim do Éden

PARTE II
EXPLICAÇÃO, COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO NOS MITOS DE CRIAÇÃO:
A recriação do mito fundador do Éden por terras brasílicas
Explicação, compreensão e interpretação nos mitos de criação
A recriação do mito fundador do Éden por terras brasílicas

NOTAS E REFERÊNCIAS

O jardim original

Para nós ocidentais, a narrativa do Génesis constitui uma referência fundamental sobre a origem do Homem quer se queira entender essa criatura como um homem – Adão – conforme o segundo e mais antigo livro do Génesis, datado do séc X a.C. (1), em que se lê nomeadamente que «Deus fez o homem do pó da terra e soprou nas suas fossas nasais a alma da vida» (Gn 2, 7) ou se prefira a versão presente no designado como primeiro livro do Génesis, na realidade posterior ao segundo, sendo datado do séc. VII a.C. (1) em que desde o início há um casal humano. Lê-se nomeadamente:«E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus Ele os criou; homem e mulher os criou (Gn1,27), pode assim optar-se por uma das duas versões, de certa forma contraditórias, que estão presentes.

Mas é no designado segundo livro do Génesis que «um jardim plantado no Éden, para oriente» (Gn 2, 8) é o lugar escolhido por Deus para colocar o homem feito (de argila e sopro divino) à sua imagem e semelhança (Gn 2, 7). Este local plantado a propósito emerge assim como um espaço maravilhoso de onde saía um rio que se dividia em quatro braços (Gn 2, 10) e onde «Deus fez brotar da terra todas as árvores agradáveis à vista e boas como alimento» (Gn 2, 9). Dada a intervenção divina que está na sua origem e as suas características maravilhosas este jardim assume-se indubitavelmente como um paraíso primordial.

É de salientar que a escolha divina de um jardim como lugar para o homem só poderá apresentar-se como mais do que adequada para povos do deserto, familiarizados com a presença de luxuriantes jardins-oásis, proporcionados pela presença de água e possíveis dado o clima sub-tropical.

Como tivemos oportunidade de notar num outro texto em que abordámos a natureza paradisíaca do jardim, é evidente a relação entre a ideia de Jardim como Paraíso e o deserto (5). Efectivamente, é no seio de um deserto árido e inóspito, onde a sua existência surge como verdadeiramente miraculosa, que o jardim pode assumir verdadeiramente um carácter paradisíaco por contraste quase absoluto com a aridez envolvente.

A própria palavra «paraíso», de origem persa, designa um jardim (2). Não será por acaso que assim é já que na Pérsia o jardim assume não só uma conotação cósmica mas também metafísica e mística. O amor dos jardins chega mesmo a ser considerado o tema central da visão do mundo iraniana (3). É também na Pérsia (actual Irão) que se encontram os vestígios dos mais antigos jardins de que há vestígios físicos, os lendários jardins de Pasárgada, criados por volta de 550 a.C. pelo imperador Ciro na capital que então estabeleceu no local da sua vitória sobre os Medos (4). Os jardins de Pasárgada, incorporando arquitectura e plantas, água e frescos pavilhões proporcionadores de sombra, são vistos como inspiradores de todos os posteriores desenvolvimentos do jardim (4).

Não se encontra porém nenhum jardim no que chegou até nós dos mitos persas da criação do mundo. No entanto, estão presentes duas árvores fabulosas que cresceriam no meio do grande Oceano salgado Vourukasha (6,7), a primeira árvore do mundo, mãe de todas as plantas, conhecida como a árvore de Saena ou de Simurgh e ainda como árvore-de-todos-os-remédios ou árvore-de-todas-as-sementes (6). Esta árvore, descrita no Avesta (Yasht 12,17), o livro sagrado de Zaratustra (ca. de 628 a.C.) (8) o albergava o ninho de Saena (Simurgh em Persa), uma ave de rapina gigantesca (7). Uma outra árvore, ligada à “água da vida”, crescia nas imediações desta sendo ambas protegidas por Simurgh e por Kar um peixe gigantesco (7).

Alegadamente uma árvore-mãe ou árvore da vida está também presente nos mitos da criação de algumas tribos amazónicas, dando origem neste caso a todas as plantas cultivadas (9) o que é consistente com a importância que reconhecidamente aquelas assumem na vida dos indígenas amazónicos.

No Corão que retomando a Bíblia trata em termos frequentemente poéticos mas mais alusivos que descritivos da criação do mundo (10), o Paraíso primordial é várias vezes referido. Nele pode ler-se por exemplo: «Adão! Habita com a tua mulher no Paraíso. Comei de tudo o que quiserdes mas não vos aproximeis desta árvore pois ficaríeis entre os injustos» (Alcorão, 7,19) porém este Paraíso primordial não é descrito. No entanto, segundo Suleiman Valey Mamede, Presidente do Conselho Directivo do Centro Português de Estudos Islâmicos (11) os comentadores muçulmanos sustentam que Adão e Eva viviam por ordem de Deus no jardim do Éden.

Mas muito mais importante que o paraíso primordial é o paraíso final, justa recompensa celestial destinada aos crentes, sendo muitas vezes referidos «os jardins por onde correm rios» (e.g. Alcorão 2,5; 47,12). Este paraíso é detalhadamente descrito como um jardim de sonho em que «haverá rios de água impoluta, de leite cujo sabor não se alterará (…) e rios de mel límpido» (Alcorão 47,15) ou jardins de bem estar onde os crentes serão convidados a comer e beber tranquilamente e desposar as huris, belas mulheres de pele clara e negros olhos rasgados, eternamente virgens (Alcorão, 52, 17-20).

Se o Paraíso é um jardim, o jardim é também um Paraíso (12), sendo os jardins terrestres vistos como uma antecipação dos jardins celestes (13).

Apenas

"Naturarte" e "Lápis de Carvão"
Comunicações aos colóquios em livros de cordel, publicados pela
Apenas Livros Lda.

Outros espaços da ciência no sítio:

Jardins

Naturalismo

Naturarte

Outros espaços da espiritualidade no sítio:

ISTA - site do Instituto S. Tomás de Aquino

Espirituais

Alquimia em Portugal - António Amorim da Costa

La Langue des Oiseaux - Richard Khaitzine

Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense (ASMAV) - Guimarães
TriploV - Mapa - Cibercultura - Teatro - Zoo - Poesia - Letras - Surrealismo - CICTSUL

DIREITOS RESERVADOS
Sendo o TriploV uma publicação com fins exclusivamente culturais, cremos não usar indevidamente textos e imagens. Mas se tal acontecer, pedimos que o facto nos seja comunicado, para os retirarmos.

triplov@triplov.com
PORTUGAL

 
 
   

Última Actualização:
29-Jun-2006




 

.