O JARDIM NOS MITOS DA CRIAÇÃO DO MUNDO |
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INDEX | |||||||
Sumário PARTE II |
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A recriação do mito fundador do Éden por terras brasílicas |
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Jardim do Éden que os portugueses recolocaram em terras brasílicas, como tem sido dito de há muito e foi recentemente reiterado por constatações oriundas da área disciplinar da Arquitectura Paisagista, nestes termos:
Desde a descoberta de Pedro Álvares Cabral que se procura identificar o Brasil com o jardim de plantio divino, por meio de analogias fáceis e atractivas. Contudo, há que destacar que alguns desfasamentos geográficos comprometem esta interpretação expedita, relembrando que da leitura atenta dos textos do Génesis pouco se pode assegurar quanto à sua localização exacta. Como, então, justificar estas pretensões se o imaginário colectivo o perpetuava a Oriente? Alguns manuscritos reflectem a surpresa e o impacto da nova descoberta, destacando-se o carácter imediato, analógico e utilitário das primeiras narrações, nas quais se exaltavam afinidades zoológicas, mineralógicas e botânicas com as originais descrições bíblicas. Documentos subsistentes testemunham outras formas de inteligibilidade sobre um objecto distinto - as terras e as plantas de Vera Cruz - cuja exploração ao longo dos últimos quatro séculos tem vindo a acompanhar o desenvolvimento da ciência. Sem dúvida que a criação desta imagem se fundamentava numa política colonial. Contudo, a vastidão e complexidade da paisagem brasílica assegura, ainda hoje, perplexidades perpetuando no ideário ocidental a imagem de um paraíso tangível.
Embora a necessidade de ocupação de um vasto território se apoiasse na divulgação desta imagem popular e idílica, não se pode assumir a extensão da mesma a níveis de conhecimento mais restrito de onde se destacou gradualmente o estudo criterioso das plantas. A realização das primeiras explorações em Terras de Vera Cruz, a concretização das primeiras colheitas de exemplares botânicos e dos respectivos registos de informação, inserem-se no contexto pré-científico da Renascença, período em que não se tinha instituído a Botânica como disciplina autónoma. Nesta época, o estudo das plantas integrava a História Natural, orientando-se por um modelo essencialmente descritivo cujas origens remontavam à antiguidade clássica.” (27) Na verdade, uma das razões porque os portugueses se sentiram privilegiados, aquando da descoberta oficial destas paragens em 1500, equivale à satisfação de um sonho marcadamente euro-medieval que procurava de há muito uma zona terrestre identificável com o Paraíso redescoberto. Contudo, para isso pudesse ser considerado como uma certeza, seriam necessários factores equivalentes a critérios de verdade. Acontece que eles não faltaram, a partir do início. Na verdade, as zonas marítimas abriram, desde logo, tudo aquilo que a penetração foi sempre confirmando, mata adentro. Um clima tão propiciamente ameno que melhor seria afirmar como se estava vivendo num permanente encantamento primaveril (28), ao longo de todo o ano. Uma população a maravilhar os recém-chegados pela sua longevidade, porquanto os relatos de descobridores, colonos e viajantes apostaram em multiplicar os elogios envolvendo a presença continuada de tanta gente centenária (29). Os rios surpreendentemente misteriosos e caudalosos, a correrem por todos os lados e impressionando tanto, quanto os primitivos mapas os representavam com uma supremacia imagética e iconográfica inigualáveis (30). Por estes três factores principais (31) - requisitos permanentes inerentes ao mundo adâmico - a consagração do Brasil como Éden passou à história. Ao mesmo tempo que o percurso pelas coisas notáveis e espantosas deste Jardim supunha uma teorização epistemológica e um modelo de abordagem, partindo dos olhares-saberes iniciais, para chegar à emergência dos métodos-ciências da História Natural dos Três Reinos (32). |
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Outros espaços da ciência no sítio: |
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Outros espaços da espiritualidade no sítio:ISTA - site do Instituto S. Tomás de Aquino |
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Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense (ASMAV) - Guimarães |
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