É muito meu amigo. Foi muito porreiro comigo na altura do Diário de Lisboa. E noutras ocasiões. Um dia apareceu-me no sanatório do Barro, em Torres Vedras, com a Isabel da Nóbrega... quando se foram embora puseram uma nota de cinco contos, disfarçadamente, na gaveta da mesa de cabeceira... Quando ele recebeu o Nobel foi lá a Palmela uma filha minha, com o marido e com os dois filhos, e diz-me assim: “ah, tu tens é inveja do Saramago”. Tenho agora inveja do Saramago… nunca quis prémio nenhum quanto mais agora o Nobel… quem tem inveja do Saramago é o Lobo Antunes e muita… porque o Lobo Antunes deve ter-se convencido que com o seu mérito próprio ganhava o prémio... ora o prémio não é um prémio para mérito próprio, o prémio é um prémio político, o prémio é dado com pontaria, com muita pontaria...fica sempre desconfiado quando vires um gajo da nossa arte a ganhar um prémio...
Nos últimos anos tem publicado livros a um ritmo espantoso. Uma Admirável Droga... Isso é aquilo que eu chamo um livro póstumo, eu não tive intervenção quase nenhuma naquilo... a Isabel Segorbe, de Coimbra, telefonou-me a perguntar se podia editar um texto meu que tinha lá em casa... mudou de casa e achou lá aquela laracha... eu não sabia o que era aquilo... De repente sou confrontado com situações de que não lembro de nada... eu andei debaixo de álcool, álcool misturado com drogas, não é o haxixe e essas coisas que vocês tomam agora, era o Lorenine, era o Valium, era essas m****s. Eu tinha dias em que não me lembrava, no dia seguinte, absolutamente de nada... podem contar-me tudo o que quiserem que eu não vou negar, mas vou negar para quê? Já não consegues desfazer em muita gente a opinião que fazem de ti, é muito difícil de desfazer... por exemplo, o Batista Bastos foi ele que apresentou esse livro de Coimbra, o lançamento foi ali na livraria Ler Devagar... eu não fui lá, ficou muito ofendido... eu se fosse lá era para lhe dar com uma bengalada nos cornos... o gajo começa: “Luiz Pacheco, bebedeiras, prisões, sexo bilateral... até parece que ninguém viu o B.B. bêbedo... eu por acaso vi... às vezes aparecem-me aqui gajos que dizem que me conhecem... sei lá quem são os gajos, não faço ideia nenhuma... um dia destes apareceu aqui um gajo: “eu sou o António Carranca”, como quem diz “eu sou o Napoleão”... eu não fixo caras... quando chegaste aqui, se dissesses “eu sou o Kadafi”, eu acreditava... mesmo com os óculos eu levo uns segundos... se fores às Caldas da Rainha há montes de gajos que me conhecem ou se lembram de mim e eu não faço ideia quem são...
|