Luiz Pacheco

Luiz Pacheco (ainda...) resiste

Entrevista de Guilherme Pereira

INDEX

Ainda resiste
Agonia do génio
Como é que ocupas aqui o tempo?
Cresceste numa família de militares...
E tu no Liceu Camões?
E a Contraponto?
Escreveste também na Seara Nova.
[Batem à porta do quarto, entra um homem]
Como é que era no Limoeiro?
Referes-te muitas vezes ao Café Gelo. Conta aí uma história.
O libertino passeia-se no lar.
 Foste um dos responsáveis pelo sucesso de O Que Diz Molero.
Opinião sobre o José Saramago, queres dar?
E a Admirável Droga?

[Batem à porta do quarto, entra um homem]
Visita: “Boa tarde”
Pacheco: “Quem é?”
Visita: “Pacheco?”
Pacheco: “Quem fala?”
Visita: “Aqui é o Armindo”
Pacheco: “É o…?”
Visita: “O Armindo”
Pacheco: “Quem é o Armindo?”
Armindo: “Já não te lembras de mim, pá?”
Pacheco: “O Armindo?”
Armindo: “Estivémos presos no Limoeiro”
Pacheco: “Eu sei lá quem é o Armindo, c******!”
Armindo: “Como é que não sabes…? já não te lembras…?”
Pacheco: “Não, filho, não estive preso contigo, nem com a p*** da tua avó...”
Armindo: “Também, com esta escuridão… [no quarto do Pacheco]… eu era um miúdo”
Pacheco: “Olha, vai dar uma volta ao bilhar russo, faz uma punheta que isso passa-te”
Armindo: “Vou…?”
Pacheco: “Vai dar uma volta e vem cá amanhã… que estamos a gravar… tu estás a ficar aqui gravado, podes ser preso outra vez…”
Armindo: “Está bem pronto, O.K. Agora que estive a dizer que estive preso e tudo… isso é uma entrevista?”
Pacheco: “É, é… é uma entrevista… mas não é da televisão…”
Armindo: “É da TSF?”
Pacheco: “ Não me f****...vem cá amanhã filho e não sejas preso hoje!”
Armindo: “Não, eu aliás já me deixei disso”
Pacheco: “Aguenta-te lá fora, vem cá amanhã, mais cedo, que a esta hora já estou a dormir, se não fosse este maluco já estava a dormir…
Armindo: “Como me disseram que andavas aqui nas tascas, aqui de roda, de vez em quando…”
Pacheco: “Vai dar uma volta…”
Armindo: “Tchau, adeus… isso fica para a reportagem?
Pacheco: “Fica…”

Pacheco para mim: “Não sei quem é, nem tenho óculos… Sei lá quem é esse gajo… Quem será este cabrão, nem vi a cara dele… Armindo? p*** que o pariu. Se ele esteve no Limoeiro deve ser um grande filho da p***, ainda me rouba… Eu estive no Limoeiro com milhares de gajos, porra, olha o que faltava agora era aparecer-me aqui a tropa toda, milhares de gajos... eu estive lá 3 vezes, imagina o que não era… o director do Limoeiro, um gajo chamado Castelo Branco, quando eu estive lá da terceira vez ele era o director, era muito novo, muito inexperiente, depois ficou pior... este jornal, o 24horas, andou a publicar umas m****s mal paridas sobre o terrorismo de direita, de esquerda...também sobre as FP’s 25 de Abril... ora este gajo, uma porrada de anos depois como chefe das prisões, morava na Lapa, mesmo ao pé de onde eu morava, mesmo ao fim da Rua Buenos Aires… e acho que já tinha feito umas m****s aos gajos das FPs … os presos condenaram-no à morte… o gajo tinha dois seguranças mas um dia estava em casa, mandou os seguranças embora, estava à espera de uns amigos para jantar, como os amigos gostavam de um determinado queijo, o estúpido foi à rua comprar o queijo para os amigos, estavam dois gajos na rua a vigiar, deram-lhe um tiro na cabeça e despacharam-no… ficou como o queijo, todo furado de chumbo...”