ADELTO GONÇALVES
Os verdes anos de Érico Veríssimo

Parte I

Parte II

Parte III

Parte IV

Parte V

Parte VI

Bibliografia

Parte VI

Nestes três livros, Veríssimo se afirma como romancista humanista, preocupado com a liberdade numa sociedade burguesa em que só os poderosos e os mais sórdidos, que não hesitam em recorrer aos golpes baixos, na base do suborno, da coação, da fraude e das negociatas, são os que conseguem chegar ao poder, como se vê na série de escândalos de que o Brasil é vítima hoje, uma prova de que, passados mais de 70 anos, o País pouco mudou. Ao mesmo tempo, mostra-se como um autor angustiado com os caminhos que se abriam para o mundo, a uma época em que o fascismo e o comunismo pareciam destinados à vitória final.

Essa angústia perpassa ao longo destes três romances escritos ainda quando o autor não havia alcançado a maturidade. É a encruzilhada que, nos anos 30, vivia todo liberal, angustiado com a impotência dos regimes democráticos para fazer frente ao avanço do totalitarismo.

O ditador Getúlio Vargas (1883-1954), esperto político gaúcho, durante muito
tempo, flertou com o fascismo e o nazismo, assumindo-se ao tempo do Estado Novo (1937-1945) como líder de massas, anunciando medidas em favor dos trabalhadores que seguiam o figurino de Mussolini. Não se pode esquecer que 1940 marca também a violência do Estado Novo contra a liberdade de imprensa, de que a expropriação do jornal O Estado de S.Paulo para transformá-lo num instrumento de propaganda do regime até 1945 foi o exemplo mais emblemático.

Todos estes livros marcam a preocupação do autor com os destinos do Brasil e de um mundo já conflagrado, sem uma definição de vitória para nenhum dos lados em guerra. Embora escritos com rapidez, no calor da hora, estes romances mostram também um autor preocupado em não se definir politicamente, pelo menos partidariamente, ao contrário de Jorge Amado e outros, que aceitaram se tornar instrumentos da propaganda stalinista. O que Veríssimo procura passar nesses livros é a sua perplexidade diante de um mundo dividido e destruído por cisões irreparáveis.

Nesse sentido, a obra de Veríssimo não destoa do romance europeu produzido na década de 40, do existencialismo sartreano à filosofia do absurdo de Albert Camus, do realismo épico de Malraux e Hemingway à crise da linguagem em Virgínia Wolf e William Faulkner, como bem assinalou Flávio Loureiro Chaves no estudo que preparou sobre Saga .

Quem se dispuser a ler os romances do terceiro ciclo da obra de Veríssimo vai descobrir também que as perplexidades do escritor maduro dos anos 60 e 70 já estavam presentes no jovem escritor dos anos 30. Sua prosa, apesar de todos os defeitos apontados - com razão - pelos críticos, sobrevive hoje muito mais límpida e atraente do que a dos primeiros livros de Jorge Amado ou mesmo de outro gaúcho, Dyonélio Machado (1895-1985), autor de um romance antológico, Os Ratos, e amigo de Veríssimo.

O seu texto direto, conciso, sem floreios, com certeza, contribuiu para o grande número de prêmios que ganhou no Brasil, especialmente a partir dos anos 60, o que permitiu que seu nome ficasse conhecido de um público maior, mesmo daquele que não costumava freqüentar livrarias. Recebeu, entre outros, os prêmios Jabuti (1966), Juca Pato (1967), Personalidade Literária do Ano (Pen Clube, 1972) e o Prêmio Literário da Fundação Moinho Santista (1973), para o conjunto da sua produção.

Além disso, sua obra logo se espalhou pelo mundo em traduções publicadas nos EUA, Inglaterra, França, Itália, Alemanha, Áustria, México, União Soviética, Noruega, Holanda, Hungria, Romênia e Argentina. Poucos escritores brasileiros chegaram a tanto.

Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: adelto@unisanta.br