Nestes três livros, Veríssimo se afirma como romancista humanista,
preocupado com a liberdade numa sociedade burguesa em que só os poderosos e
os mais sórdidos, que não hesitam em recorrer aos golpes baixos, na base do
suborno, da coação, da fraude e das negociatas, são os que conseguem chegar
ao poder, como se vê na série de escândalos de que o Brasil é vítima hoje,
uma prova de que, passados mais de 70 anos, o País pouco mudou. Ao mesmo
tempo, mostra-se como um autor angustiado com os caminhos que se abriam para
o mundo, a uma época em que o fascismo e o comunismo pareciam destinados à
vitória final.
Essa angústia perpassa ao longo destes três romances escritos ainda quando
o autor não havia alcançado a maturidade. É a encruzilhada que, nos anos 30,
vivia todo liberal, angustiado com a impotência dos regimes democráticos
para fazer frente ao avanço do totalitarismo.
O ditador Getúlio Vargas (1883-1954), esperto político gaúcho, durante muito
tempo, flertou com o fascismo e o nazismo, assumindo-se ao tempo do Estado
Novo (1937-1945) como líder de massas, anunciando medidas em favor dos
trabalhadores que seguiam o figurino de Mussolini. Não se pode esquecer que
1940 marca também a violência do Estado Novo contra a liberdade de imprensa,
de que a expropriação do jornal O Estado de S.Paulo para transformá-lo num
instrumento de propaganda do regime até 1945 foi o exemplo mais emblemático.
Todos estes livros marcam a preocupação do autor com os destinos do Brasil e
de um mundo já conflagrado, sem uma definição de vitória para nenhum dos
lados em guerra. Embora escritos com rapidez, no calor da hora, estes
romances mostram também um autor preocupado em não se definir politicamente,
pelo menos partidariamente, ao contrário de Jorge Amado e outros, que
aceitaram se tornar instrumentos da propaganda stalinista. O que Veríssimo
procura passar nesses livros é a sua perplexidade diante de um mundo
dividido e destruído por cisões irreparáveis.
Nesse sentido, a obra de Veríssimo não destoa do romance europeu produzido
na década de 40, do existencialismo sartreano à filosofia do absurdo de
Albert Camus, do realismo épico de Malraux e Hemingway à crise da linguagem
em Virgínia Wolf e William Faulkner, como bem assinalou Flávio Loureiro
Chaves no estudo que preparou sobre Saga .
Quem se dispuser a ler os romances do terceiro ciclo da obra de Veríssimo
vai descobrir também que as perplexidades do escritor maduro dos anos 60 e
70 já estavam presentes no jovem escritor dos anos 30. Sua prosa, apesar de
todos os defeitos apontados - com razão - pelos críticos, sobrevive hoje
muito mais límpida e atraente do que a dos primeiros livros de Jorge Amado
ou mesmo de outro gaúcho, Dyonélio Machado (1895-1985), autor de um romance
antológico, Os Ratos, e amigo de Veríssimo.
O seu texto direto, conciso, sem floreios, com certeza, contribuiu para o
grande número de prêmios que ganhou no Brasil, especialmente a partir dos
anos 60, o que permitiu que seu nome ficasse conhecido de um público maior,
mesmo daquele que não costumava freqüentar livrarias. Recebeu, entre outros,
os prêmios Jabuti (1966), Juca Pato (1967), Personalidade Literária do Ano
(Pen Clube, 1972) e o Prêmio Literário da Fundação Moinho Santista (1973),
para o conjunto da sua produção.
Além disso, sua obra logo se espalhou pelo mundo em traduções publicadas nos
EUA, Inglaterra, França, Itália, Alemanha, Áustria, México, União Soviética,
Noruega, Holanda, Hungria, Romênia e Argentina. Poucos escritores
brasileiros chegaram a tanto.