Em Olhai os Lírios do Campo, ainda hoje um livro extremamente popular, o
autor conta a história de Eugênio Fontes, filho de um alfaiate pobre, que
pretende a ascensão social de qualquer jeito e envergonha-se de suas
origens. Formado em Medicina, enfrenta os obstáculos naturais a quem vem de
uma condição social menos favorecida, o que o torna inseguro. Conhece
Olívia, sua antiga colega de classe e médica também, que lhe dá uma filha,
mas a mulher morre e a filha fica como uma lembrança da mulher amada.
Depois, trava conhecimento com Eunice, filha de um grande empresário, que,
com a sua fortuna, abre caminho para que o médico conquiste o seu espaço na
sociedade burguesa.
O próprio autor teve a autocrítica, trinta anos depois de sua publicação, de
admitir que Olhai os Lírios do Campo é um livro "um tanto falso e
exageradamente sentimental", o que, porém, não impediu que se tivesse
tornado um êxito de vendas nas décadas de 30, 40 e 50. O que se pode avançar
é que talvez a maneira humana como Veríssimo tratou seus personagens tenha
mexido com o sentimento de um público que ainda não era o das telenovelas,
mas já ávido por personagens capazes de atos vis ou gestos heróicos.
Decidido a romper os laços que o uniam ao mundo de riqueza que tanto o
atraía e, ao mesmo tempo, o incomodava, Eugênio encontra forças para ir à
luta em nome de Anamaria, sua filha com Olívia, e, principalmente, nas
cartas que a ex-mulher lhe escrevera, sem, porém, que lhe tivesse enviado,
na ocasião em que estiveram separados. As cartas surgem como lições de fé,
transformando a sua autora num símbolo de otimismo para milhares de pessoas.
Mais: um exemplo da mulher decidida que abriria caminho na sociedade
patriarcal brasileira da primeira metade do século 20.