A “desubstanciação” emerge, agora, como o traço distintivo maior e mais unificador da Pós-Modernidade: o sujeito (e a subjectividade, “desconstruída”, como afirmou Barthes) deixou de ser uma essência para passar a ser uma “construção social” ou uma “marca de linguagem” (cf. Fuchs p. 3).
Um novo teatro surge, então, em meados dos anos 80, para esta nova realidade: um teatro feito só de “actores” -- um teatro de presença -- e não com “personagens”, marcado pelo vazio, pela “ausência” de, pela utopia da imaterialidade, pelo “du non-corps” que a grande tecnologia torna exequível (1). As personagens deixam de ser/ter caracteres estáveis e as suas psiques são DESMONTADAS como peças retiradas do conjunto para observação do espectador (e não para a sua “representação”). Constata-se a perda, igualmente, do “enquadramento dramático”, colocando-se o espectador (sobretudo o americano) perante dúvidas de fundo, tais como: será este um espectáculo de teatro? Um concerto? Tudo isso ou nada disso?
Nesta transição de paradigma cultural, é o próprio paradigma identitário uno que muda radicalmente. Ainda que num momento político de grande conservadorismo, uma nova ordem do feminino (cf. Fuchs p.6) e uma renovada consciência da “luta de classes”, ou seja, da divisão entre Homens e Mulheres, surge no plano teórico-político e no plano das práticas artísticas. O teatro prossegue, como as demais artes cénicas, a procura de novas fronteiras territoriais. A performance – designação ambígua e muito sediada nas práticas culturais norte-americanas (a que pertencerá exclusivamente a performance art, como defende Marvin Carlson, Theories of the Theatre, 1984, p. 159) --, o teatro-música, a dança-teatro, etc. emergem como linguagens de miscigenação em luta contra as fronteiras convencionais delimitadoras. Deixa de fazer sentido falar, no interior destes novos territórios, de géneros, de estilos ou de modelos. Pelo contrário, todos esses territórios, todas essas geografias, parecem atravessados por novas correntes de ordem epistemológica e ontológica que obrigam críticos e analistas a uma paralela procura de terminologias e modos de olhar e analisar o espectáculo cénico.
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(1) A Exposição “Les immatériaux”, decorreu no Centre Pompidou, Paris, em 1985 e foi concebida com a participação do filósofo Jean-François Lyotard. Os temas estavam organizados em torno dos conceitos de desubstanciação, do invisível, do novo mundo da informação, etc.; e o teatro adquiria, nesse novo quadro da idade pós-moderna, uma ascendência inesperada, sendo o espaço dedicado ao “Théâtre du non-corps” um dos mais importantes do certame. Neste espaço, eram ouvidas vozes gravadas sobre performance de luz e holograma. |