Em “Richard Wagner e Tanhäuser em Paris”, por meio do debate do ideário wagneriano da Gesamtkunstwerk, Baudelaire introduz, então, o que virá a ser entendido, posteriormente, como a “doutrina das correspondências” (Deak p. 95). Esta teoria funda-se na sinestesia como veículo de correspondência entre os sentidos, o que estaria na base, como explica, do facto de tanto Berlioz como Lizt e ele mesmo terem chegado a ideias semelhantes ao ouvirem o Lohengrin.
De acordo com esta leitura da sinestesia como um modelo teórico, como uma autêntica epistemologia, o universo seria composto por um certo número de sistemas analógicos e no interior de cada sistema, os seus elementos corresponderiam aos elementos de qualquer outro sistema. Através de símbolos seria, pois, possível, relacionar entre si todos os sistemas análogos. (cf. Deak, pp. 95-100) Deste entendimento decorre então que as “correspondências” não são somente um tema mas sim uma teoria geral das artes e, assim sendo, também uma teoria geral da poesia. (cf. idem, p. 100) Como a poesia, a música seria constituída por elementos especiais, com traços que se combinam em estruturas. Em consequência, a música e a poesia seriam artes recíprocas, o que permitiria compreender um género artístico através de outro que fosse escolhido como paradigma.
Esta conceptualização, com grande futuro, tornou-se um dos conceitos-chave com que os proponentes de La Revue Wagnérienne (Paris, 1885) elaboram a sua teoria do Simbolismo (cf. Deak, p. 101), reinterpretando, para esse fim, o termo wagneriano de Gesamtkunstwerk, entendido agora como uma ideia inicial de Wagner que o próprio compositor tinha abandonado, como se confirma no Parsifal onde a música é nitidamente superior ao poema (cf. Deak, p. 103).
O problema com que se debatiam, porém, os simbolistas franceses face a este conceito remete para o seu conteúdo genético – a ideia de síntese, de escolha das artes irmãs e a metodologia a adoptar para essa síntese – que não se adequava à estética simbolista do momento. Com efeito, a síntese final proposta por Wagner resultaria numa potenciação total expressiva da obra artística por meio da potenciação expressiva de cada arte individual convocada (cf. A Obra de Arte do Futuro), o que conduzia à conclusão de que uma arte poderia ser substituída pela outra em virtude dos objectivos comuns que perseguiam. Para ultrapassar este obstáculo e para manter o conceito (G.) como ferramenta epistemológica, os críticos de La Revue Wagnérienne aderiram, por fim, à defesa da superioridade da música sobre as outras artes e à defesa da síntese como operação que para se efectuar pressupunha a aceitação da superioridade da música! (cf. Deak, pp. 102-103)
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