No céu primitivo erguem-se imaculados os cantos dos pássaros
e o fresco cheiro da erva ágil com eles se ergue, Abril.
Ouço o respirar profundo da madrugada movendo as nuvens
brancas dos cortinados
e escuto a canção do sol nos taipais das janelas
melodiosas.
Sinto como que um hálito ou uma recordação de Naett
na minha nuca apaixonada e nua
E o meu sangue cúmplice, a despeito de mim, chocalha-me
nas veias.
És tu, minha amiga – ô! Escuta os suspiros escuta
os quentes suspiros neste Abril dum continente novo
Oh escuta, enquanto deslizam, no gelado azul, as asas
das andorinhas migratórias
e não te esqueça ouvir o murmúrio negro e branco das aves
de arribação
horizontais no extremo das suas velas desdobradas.
Escuta a mensagem da Primavera duma outra idade, dum outro
mundo
Escuta a mensagem da África longínqua e velha e a canção
do teu sangue
Pois eu estou ouvindo a seiva de Abril que nas tuas veias
cantando me desafia.
in “Cântico da Primavera”
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