Noite de temporal
a escuridão morde-me o crâneo.
Os diabos
postilhões do trovão
foram de férias.
Ninguém passou pela rua
Ela não veio
tombou na esquina
e o pêndulo
quedou-se imóvel
já não oscila.
Por vezes o eléctrico
afasta-se voando
como os passarocos de fogo.
Na montanha
os rebanhos
tremem sob o temporal
E o cão maneta que tudo vigia
procura a sua sombra.
Vem mais para o pé de mim
faremos uma viagem maravilhosa.
No deserto africano
as girafas buscam engolir a Lua.
Não é preciso olhar
obrigatório espreitar
por detrás dos muros.
E a curiosidade alonga o pescoço.
Alguém se procura
se procura
e ninguém topa o caminho.
Eu escondo uma recordação
mas eis que é inútil olhar os meus olhos.
Ao derredor do meu lar
o vento rosna
E talvez que lá ao fundo a minha mãe
soluce.
O berro dum trovão fatigado
seriíssimo pousou no mais altivo cume.
in “L’aventure Dada”
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