Conheceram-se num bar. Parece o começo de um rançoso filme americano mas é um episódio importante na vida da Marta e do Carlos. Pela primeira vez, desde que se tinha separado, Marta decidiu ir sozinha a um bar, um daqueles onde se pode ouvir música ao vivo. Estava cheio, por isso sentou-se numa mesa já ocupada por um senhor de óculos, que lhe pareceu distante e incomunicável. Afinal, acabaram por conversar um pouco. O suficiente para que Carlos começasse a gostar da conversa. O suficiente para que Marta apreciasse a sua maneira de estar. Mas não tanto que deixassem de ouvir a música. Esse espaço rarefeito entre a música e a conversa foi o suficiente para deixar aparecer algum desejo. As bebidas que tomaram e a juventude que restava fizeram o resto. Acabaram por ir dormir juntos e, contaram depois um ao outro, foi a primeira vez o fizeram no próprio dia em que conheceram alguém.
Esse facto, o de ser a primeira vez de alguma coisa, serviu-lhes mais tarde para festejar mas também para se agredirem, quando discutiam. Essas zangas terminavam quase sempre em separação, embora temporária. Acabara por ser um jogo a que se haviam habituado. Depois de separados durante algumas semanas, um dos dois encontrava uma forma de aproximação. Podia ser alternadamente um ou outro, mas não era obrigatório. A regra do jogo era essa falta de regra.
Dessa vez foi Marta. Depois de três semanas de separação enviou-lhe uma fotografia do bar onde se tinham conhecido. Era num sítio muito bonito de Lisboa e a foto estava bem conseguida. Não havia uma única palavra a acompanhá-la, mas também não foi necessário. No próprio dia em que recebeu a fotografia o Carlos telefonou-lhe. As imagens podem ser mais eloquentes do que as palavras. A prová-lo aí estava uma cópia da mesma fotografia no seu álbum de família. |