Enquanto
esperavas o gosto de um beijo…
Dissipou-se o nevoeiro e a vista é soberba.
De lá o
suão, invadindo a fronteira,
de cá, a
terra queimada, um lençol de fino verde.
A água
corre branca, sabendo a frio.
Adivinha-se a toca do coelho, junto à curva barrenta,
e a sombra
parda da raposa,
colada às rodas de trás.
Enquanto esperavas o gosto de um beijo...
O menino
continuou extasiado,
e a
cegonha debicando o filhote, por cima da auto-estrada.
Contam-se
os pés de mimosa florida,
que davam
já para encher a Primavera.
Enquanto
esperas o gosto de um beijo…
O dia
rebolará sobre a noite,
apagando as luzes de néon,
e os
altifalantes gritarão o teu nome.
Nascerá o
bezerro do avô Geraldo,
e os
patinhos flutuarão na piscina.
Haverá
compota de medronho, apertada com laços de cetim,
e até de
cartas, entupirá a caixa do correio.
Enquanto
esperas o gosto de um beijo…
Como se
alguma vez, esse beijo pudesse ter gosto!
Pudesse
saber a açúcar, ou mesmo a sal!
Como se
algum dia, pudesse haver língua,
nesse mundo virtual! |