Quando se tenta explicar o quando, onde e como se produz ou se constrói a consciência, encontramos diversas explicações e modelos. Alguns provêem da física de partículas, como o de Penrose (1989, 1994), que a apresenta como um fenómeno quântico, porém desconhecido, que teria lugar nos microtúbulos do citoesqueleto dos neurónios; ou o de Herms Romijn (2002), que propõe os “fotões virtuais” como candidatos para explicar a consciência, ainda que, realmente, considere que esta é uma propriedade fundamental. Ambos insistem no carácter irredutível destes fenómenos. Porém, as suas teorias também poderiam ser qualificadas como emergentistas.
Sem embargo, os mais consistentes modelos emergentistas não procuram a explicação da consciência no campo elementar dos fenómenos físicos, nem no velho paradigma da “química” da mente, senão numa visão enriquecida do paradigma neurológico de Cajal, tratando de encontrar no cérebro novos fenómenos neuronais colectivos, mais além dos mecanismos das sinapses ou do processamento de informação que é levado a cabo nas redes neuronais.
Descreveram-se já alguns daqueles macroprocessos neuronais, que fazem surgir uma nova ordem a partir da acção sincronizada de milhões de elementos, como os que têm lugar na física de fluídos, ou no relógio químico de Prigogine, ou em fenómenos sociológicos como a sincronização dos aplausos ou outros movimentos repentinos de massas. Em concreto, Changeux (1983) fala de processos de ressonância, seguindo uma proposta de Thom (1980), mas começam-se a impor os termos coerência ou sincronização da actividade de populações numerosas de neurónios. O exemplo mais importante é a teoria da consciência como activação sincronizada de milhões de neurónios a uma frequência ao redor dos 40 hertzs (entre 35 e 75 hertzs). Tais pulsações rítmicas dão lugar a ondas detectáveis, inclusive no electroencefalograma. É a teoria que propuseram Crick e Koch (1990), de novo apresentada por Crick em 1994, e na qual estão investigando várias equipes, como a de Rudolfo Llinás. Tais ritmos de activação sincronizada foram investigados nos finais dos anos oitenta pelas equipes alemãs de Singer e de Eckhorn para dar conta da unificação da experiência sensorial (o popperiano binding problem da consciência), quer dizer, de como percebemos e sentimos como unidade aquilo que é o produto de uma multidão de analisadores visuais (de formas, volumes, movimentos), tácteis, auditivos, etc., situados em partes do cérebro muito longe umas das outras. Porém, a explicação que eles buscaram para este fenómeno converteu-se, rapidamente, debaixo do patrocínio de Crik, numa hipótese sobre a consciência.
Tal hipótese é inteiramente semelhante às que Pockett (2000) e McFadeen (2000, 2002) elaboraram recentemente, apresentando a consciência como produto do campo electromagnético originado pelos disparos sincronizados de milhões de neurónios. Do mesmo modo que Crik, também estes autores se inspiram nos trabalhos das equipes de Singer e Eckhorn. Este campo electromagnético neuronal foi detectado primeiramente nos gatos e, logo depois, nos homens e nos monos.
Assim, as mencionadas teorias têm em conta unicamente os ritmos. Porém, devemos considerar que os fenómenos colectivos descritos têm outras dimensões, já que tais ritmos e ondas mantêm-se durante um tempo mas são produzidos, sem embargo, por milhões de neurónios cuja activação individual varia continuamente, posto que cada momento muda a nossa experiência sensorial e motora. De modo que poderíamos falar de autênticas melodias neuronais, com seus ritmos e arritmias, consonâncias e dissonâncias, porém produzidas por conjuntos neuronais em mudança permanente, constituindo melodias muito diversas: uma pode corresponder-se com uma determinada cor, outra com um som, uma forma, etc.. Ao fundirem-se e sucederem-se umas às outras, tais melodias poderiam constituir verdadeiras sinfonias.
Deste modo aparece uma nova metáfora do mental: a mente pode ser concebida como uma sinfonia executada por uma orquestra (o cérebro), distinguindo-se deste mas acompanhando-o sempre. |